Tradicionalmente, vemos um aumento considerável na balança comercial nos últimos meses do ano, principalmente quando consideramos que é um período de festas. Muitas importações e exportações são realizadas neste período. Porém, como mostrou a balança comercial divulgada pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, tivemos uma diminuição de 78% no mês de novembro, em comparação com o ano anterior. Mas quais são os motivos dessa retração?
É claro que devemos considerar que o superávit, no ano, tem um resultado positivo quando analisamos o acúmulo, que chega a US$ 58,72 bilhões. Porém, não podemos descartar que a pandemia afetou, e ainda afeta, diretamente o comércio exterior, fazendo com que tenhamos novos desafios: preços elevados, necessidade de novas estratégias logísticas, priorização de mercados do hemisfério Norte, dentre outros. Precisamos ter atenção ao sinal de retração deste mês, principalmente considerando a atual crise no setor.
O ano de 2021 está chegando ao fim, mas as marcas deixadas no comércio exterior continuarão a serem sentidas pelos empresários. Afirmo com a convicção de que ainda precisamos avançar muito em políticas para o comércio exterior, por mais que existam ações positivas nos últimos anos. Além disso, não chegamos determinadamente ao fim da pandemia, com mercados que abriram após a vacinação vendo o aumento de novos casos da Covid-19 e suas variantes, como ocorre em Portugal; tudo isso gera preocupação e incerteza.
Por este motivo, ações do governo precisam ser tomadas, tal como ocorre na Europa e América do Norte.
Em agosto tivemos um momento adverso que gerou problemas colossais, os quais ainda sentimos hoje.
Estou falando da paralisação das atividades do porto de Ningbo-Zhoushan, na China. O local é estratégico e a demanda portuária supera todos os portos do Brasil, somados. Agora, com o início de um novo período, será que o mercado vai conseguir se estabilizar se tivermos novos casos como este pelo mundo? O momento é para evitarmos, ao máximo, situações deste patamar e isso só poderá ser atingido com um trabalho concomitante de todos envolvidos nos negócios internacionais.
O certo é que quando pensamos no Comex no ano de 2021, lembramos dos desafios e que as soluções terão efeitos apenas no longo prazo. Ainda não estamos perto de, efetivamente, declarar um estado de normalidade na logística internacional e a falta de contêineres, sentida este ano, é um indicador disso. Isso é explicitado em um levantamento da World Container Index, da consultoria Drewry, em que observamos que, os preços de transporte, que chegaram a variar entre US$ 1,2 mil e US$ 2 mil, antes da pandemia, já chegam a valores acima dos US$ 10 mil por contêiner.
Diferentemente de outros períodos da história, vivemos um momento completamente diferenciado, em que as fronteiras não são mais as mesmas. A crise tem um impacto ainda maior, principalmente com o avanço da tecnologia, e a importância da logística em um mundo cada vez mais conectado. Acredito em uma recuperação, que pode demorar mais do que imaginamos, mas que poderá abrir novas possibilidades para o comércio exterior como um todo. Porém, por enquanto, precisamos evitar a ansiedade e necessitamos de ações eficazes e concisas, buscando a mudança dessa realidade, principalmente no Brasil.
Mas como podemos sair desta situação? Acredito que o superávit no próximo ano novamente registrará um acúmulo e poderemos expandir ainda mais os negócios internacionais, principalmente se tivermos boas ações governamentais, como o OEA-Integrado Secex, lançado pelo Ministério da Economia em agosto. Porém, o desafio é mundial, e ainda sentiremos, mais intensamente nos primeiros seis meses de 2022, os impactos que tivemos nos últimos dois anos na logística internacional. Também anseio para podermos passar do desafio das novas variantes com mais inteligência e ações realmente eficazes, que salvem vidas, protejam a economia mundial e evitem novas paralisações.