“O país tem condições de se tornar um líder na área de biotecnologia”, diz Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de tecnologia e inovação da entidade, em entrevista exclusiva a Época NEGÓCIOS
Reindustrialização é a palavra do momento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tocou no assunto em seu discurso de posse, no dia 1º de janeiro. O vice-presidente Geraldo Alckmin reforçou o recado ao assumir o posto de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, no dia 4. “Indústria é essencial”, disse Alckmin, que defendeu a retomada do protagonismo da indústria brasileira – hoje, o setor corresponde a apenas 22,2% do PIB, ante 27,2% em 2011.
Para colaborar com esse esforço de reindustrialização, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) entregou a Alckmin um plano de retomada do setor para os primeiros 100 dias de governo. Entre as propostas estão: implementar uma POLíTICA industrial para o país; estimular a inovação; reduzir o custo Brasil; recriar o sistema de financiamento e garantia às exportações; dar continuidade ao processo de acesso do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico); e acelerar a integração internacional do país.
“Existem cinco áreas estratégicas que precisam ser trabalhadas para que a indústria nacional volte a crescer e alcance uma complexidade econômica capaz de trazer amplos benefícios à sociedade brasileira”, diz Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de tecnologia e inovação da CNI, em entrevista exclusiva a Época NEGÓCIOS.
“Mas é preciso entender que, para qualquer uma dessas áreas, é fundamental contar com uma infraestrutura fornecida pelo Estado”, diz Gomes. “Não adianta investir em energias renováveis se não houver locais para armazenamento de hidrogênio, ou barcos que transportem essa energia, por exemplo. Então, a infraestrutura faz parte de qualquer meta de desenvolvimento da indústria no país”, afirma o diretor de inovação da CNI.
Confira a seguir as cinco áreas estratégicas para o futuro da indústria no Brasil, segundo ele.
1. Transformação digital
“Essa é uma área na qual devemos investir muito em 2023 para nos tornarmos mais competitivos no mercado global. Para realizar essa transformação, a indústria vem atravessando algumas dificuldades que precisam ser superadas. Os melhores negócios digitais são aqueles que promovem a formação de pessoas. Então, temos que formar mais gente e acabar com o êxodo de brasileiros que saem para trabalhar em empresas estrangeiras. Outro fator que dificulta o implemento de transformação digital é a incapacidade de boa parte da indústria em utilizar técnicas ágeis e deixar para trás os processos mais conservadores. Um terceiro obstáculo é que, hoje, a maioria dos CEOs tem entre 45 e 55 anos. Eles não são nativos digitais. É preciso que haja um forte programa de treinamento para C-levels, algo no qual o Sistema Indústria [CNI, SENAI, SESI e IEL] vem trabalhando.”
2. Energias renováveis
“Todos os estudos das grandes consultorias dizem que o Brasil é o país mais bem colocado para a produção de energias renováveis. Para converter hidrogênio em energia, você precisa de muita água limpa e muita energia. Quem é que tem tanta energia limpa e tanta água? O Brasil. Então, temos grandes possibilidades em relação ao hidrogênio, mas também podemos avançar em energia solar, eólica, proveniente da fusão atômica ou gerada pela biomassa. Eu acho que vamos experimentar um grande boom de equipamentos voltados para essas energias.”
3. Biotecnologia
“O mundo chegou ao limite da sua capacidade química. Se você pegar a tabela periódica, aquela que é ensinada no colégio, nós já conhecemos 99% das combinações possíveis. Há poucos materiais para serem descobertos. Agora, quando o tema é biotecnologia, a coisa muda de figura. Segundo especialistas, não chegamos nem a 5% das possibilidades de combinação. Ora, um país que tem seis biomas, com uma complexidade continental e um oceano com diferentes correntezas e temperaturas, é um forte candidato a se transformar em um líder da área de biotecnologia.”
4. Saúde
“Eu acredito que a área de saúde é a mais importante para o futuro do planeta. Não estou falando apenas de medicamentos ou vacinas, mas também da área de gestão de saúde, especialmente depois do desastre global da pandemia. Considerando que são poucos os países que conseguem ter um sistema unificado de saúde, o Brasil está numa posição privilegiada para avançar no setor. Então, eu diria que tecnologia de saúde é um segmento muito estratégico. Precisamos pensar nisso como Estado, e não apenas como setor privado.”
5. Economia circular “Hoje fala-se em preservar o planeta para deixar um mundo melhor para as futuras gerações. Mas o que está acontecendo é que as pessoas estão vivendo cada vez mais. Eu tenho uma filha de 24 anos: a tendência é que ela viva até os 100. Se ela tiver filhos, é provável que vivam até os 120 anos. E por aí vai. Isso muda completamente a percepção de consumo. Em breve, as pessoas vão pensar em que mundo querem criar para si mesmas quando tiverem 100 anos. É por isso que a economia circular [que busca produzir sem esgotar os recursos naturais e sem danificar o meio ambiente] é uma área estratégica para o mundo – e para o Brasil.”