O roubo de cargas no Rio de Janeiro atingiu um patamar inadmissível. A presença das Forças Armadas, após decreto do Governo Federal, não consegue minimizar este caos, até por ser, apenas, uma solução temporária, que camufla um problema que há anos o setor vem denunciando. O prejuízo com roubo de cargas no país, entre 2011 e 2016, superou a ordem de R$ 6,1 bilhões.
Como consequências do crescimento dessa modalidade criminosa, temos o encarecimento dos seguros. As medidas de gerenciamento de risco das empresas giram, em média, entre 12% e 15% com relação ao faturamento anual. Taxas extras são cobradas pelas transportadoras para todas as mercadorias destinadas ou com origem no Rio de Janeiro. Em decorrência, quem produz e/ou consome no Rio paga mais caro pela falta de segurança.
A situação é tão grave que, em uma lista de 57 países, o Brasil é apontado como o oitavo mais perigoso para o transporte de cargas, à frente de países em guerra e conflitos civis, como Paquistão, Eritréia e Sudão do Sul. Se tratarmos especificamente de roubo de cargas, o Brasil lidera o ranking mundial.
Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Rio de Janeiro, nos últimos 24 anos, quando a estatística começou a ser feita, o roubo de cargas saldou de 1.939 para 9.870, o que representa um aumento de mais de 500%, levando o Estado a liderança do ranking nacional dessa modalidade criminosa.
Ao examinar a estatística do período de 1992 a 2016, é possível constatar quatro momentos distintos. O primeiro, do início do estudo até 1995, apresenta quedas sucessivas. Após 1996, verifica-se uma tendência de elevação até 2007, com ressalva a ligeira queda verificada entre 2005 e 2007. No terceiro momento, iniciado em 2008, demonstra uma redução significativa dos números, que persistem em cair até 2010. Daí em diante, caracteriza-se uma forte tendência de alta, acentuada nos últimos anos da série, alcançando em 2016 o maior número de todo o conjunto analisado.
Para agravar ainda mais, o Estado do Rio passa por uma de suas mais graves crises financeira, o que tem levado ao sucateamento da estrutura administrativa. As forças policiais sabem como combater esta modalidade criminosa. No entanto, não contam com uma estrutura mínima para a implementação de uma atuação mais ofensiva.
A carência passa pela falta de recursos humanos, materiais, armamentos e viaturas, chegando até a ausência de torners necessários para a impressão de um boletim de ocorrência. Com isso, somente no ano de 2016 foram praticados 27 roubos por dia. De 2014, quando o tráfico intensificou sua atuação nessa modalidade criminosa, até 2016, já foram registrados 22.685 casos.
Ao mesmo tempo em que crescem as ocorrências, o combate ao roubo de cargas no Brasil tem sido dificultado por três fatores. O primeiro, a maior atuação de grandes organizações criminosas, que transformaram esse crime em fonte de financiamento para o tráfico de drogas. O segundo, a falta de uma legislação mais rigorosa voltada para punir, em conjunto, todos os elos da cadeia criminosa. Por último, a falta de recursos financeiros das forças de segurança.
Só com a união do setor poderemos reverter este quadro. Somos responsáveis pela movimentação de cerca de 70% de toda a mercadoria que circula no Brasil. Sem segurança, estamos perdendo competitividade e nossas empresas deixam de crescer. Temos que mostrar nossa força e exigir o fim dessa tragédia, que prejudica toda a economia do Brasil.
Responsável: Ítalo Marcos Grativol