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Considerando cadeias de insumos, indústria e serviços ligados a produtos do campo, agropecuária já responde por 26,6% do PIB, diz USP
O agronegócio e a mineração, setores da economia considerados primários, ganham força no país em meio à crise econômica provocada pela pandemia. Turbinados pelo câmbio favorável e pela alta da demanda por commodities nos países que se recuperam do baque da Covid-19, sobretudo a China, os dois segmentos aumentam seu peso no Produto Interno Bruto (PIB).
As evidências aparecem na forte alta das exportações, no pagamento de impostos, nos balanços financeiros das companhias do setor e na atração de investimentos.
Isso acontece em um momento de dificuldades para a indústria e os serviços, mais afetados pelas restrições sanitárias. O aumento do peso do setor primário é ruim para o país? Não necessariamente, dizem os economistas.
Se esses setores já foram tratados como básicos, com pouca capacidade de gerar emprego, tecnologia e oportunidades de desenvolvimento, essa realidade está mudando.
Especialistas lembram que há muito mais tecnologia no campo e nas minas, aumentando o valor agregado do que produzem e gerando benefícios econômicos em outras áreas.
— É cada vez mais tênue a linha entre o setor primário e a indústria e os serviços. Novas tecnologias ampliam impactos econômicos do agro e da mineração — diz o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Cláudio Considera, pesquisador do Ibre/FGV e responsável pelo Monitor do PIB, diz que o peso da agropecuária na economia passou de 6,8%, no primeiro trimestre de 2016, para 12,6% em igual período deste ano.
Já a participação do extrativismo mineral na economia passou de 0,9% para 3,5% do PIB na mesma comparação.
Setores atraem investimentos estrangeiros
Com metodologia mais abrangente, que inclui as cadeias de insumos, serviços e a indústria ligada aos produtos do campo, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq (USP) estima que o agronegócio respondeu por 26,6% do PIB do país no ano passado — o maior patamar desde 2004.
E este percentual deve crescer em 2021. Para se ter uma ideia do salto, em 2014 o setor representava 18,7% da economia.
— Em 2020, vimos o maior salto da participação do agro na série, de 20,5% do PIB, em 2019, para 26,6% — diz Nicole Rennó Castro, pesquisadora da Cepea-Esalq. — Em 2021, a participação do agronegócio no PIB deve avançar mais um pouco, não no mesmo ritmo do ano passado, tanto pela produção quanto pelo preço.
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Dados do Banco Central compilados pela Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) indicam que a fatia da agropecuária e do extrativismo mineral no investimento estrangeiro no Brasil dobrou na última década. Representa agora mais de metade do ingresso das empresas.
“ Agropecuária e mineração podem se tornar um eixo para o crescimento da indústria do país. Não há uma dicotomia”
RAFAEL CAGNIN
economista do iedi
Os empréstimos intercompanhias destes setores passaram de 25,7% em 2010 para 54,9% no primeiro trimestre de 2021, quando se analisa os dados de forma ampla, incluindo os investimentos na indústria relacionada aos dois segmentos.
— O que a gente percebe é que o setor primário passou a ser o mais importante entre todos os setores, em detrimento do industrial, que inverteu de importância relativa com o setor primário dentro dos investimentos diretos. E quando olhamos com lupa, parte importante dele é decorrente do beneficiamento de produtos agrícolas — afirma Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet.
País precisa de estratégia para se beneficiar
Para Cagnin, do Iedi, para se beneficiar de fato do seu potencial extraordinário no campo e nas minas, o Brasil precisa ter uma estratégia clara:
— A indústria e os serviços podem crescer utilizando os avanços dos setores primários, onde o país tem uma vantagem competitiva. O desafio é ampliar a industrialização dos produtos destes setores, pois é isso que gera valor agregado e difunde os ganhos econômicos para todo o país.
O economista acrescenta: — Agropecuária e mineração podem se tornar um eixo para o crescimento da indústria do país. Não há uma dicotomia, há uma convergência.
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Arrecadação da mineração mostra aquecimento
Somente nos três primeiros meses de 2021, os impostos decorrentes da mineração cresceram 101%, um indicativo de aceleração do setor, após alta de 36% em 2020.
O minério de ferro voltará ao topo da pauta de exportações do país este ano, retomando o lugar perdido para a soja em 2015, prevê José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB):
— Até abril, a soja ainda esteve à frente, mas quando acabar o embarque, o minério a ultrapassará.
De janeiro a abril, as exportações de soja atingiram US$ 13,4 bilhões, alta de 22,4%. No mesmo período, as de minério de ferro somaram US$ 12,6 bilhões, valor 103,6% superior ao registrado nos quatro primeiros meses de 2020.
A bonança estimulou a recente abertura de capital da CSN Mineração, com ganho líquido de R$ 2,5 bilhões para a siderúrgica, e se refletiu no lucro de US$ 5,5 bilhões da Vale no primeiro trimestre, alta de mais de 2.000%. A alta das ações consolidou a mineradora como a empresa mais valiosa da América Latina.
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Os investimentos do setor mineral devem crescer 110% entre 2021 e 2025, na comparação com o ciclo 2017-2020. Estimulam os projetos o alto potencial, já que apenas 3% do território do país foram mapeados.
— A mineração brasileira passa por mais um de seus ciclos positivos, o que é bom para incrementar seus esforços voltados a aperfeiçoar indicadores de sustentabilidade e de segurança — afirma Flávio Ottoni Penido, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Vendas e dólar em alta
Coordenador do Núcleo Econômico da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Renato Conchon, destaca que, enquanto o PIB do Brasil encolheu 1,2% na última década, com uma queda na indústria de 12,8%, a atividade agropecuária expandiu 25,4%.
— O setor agropecuário vem dando bons resultados e a expectativa é que isso continue. O Brasil fez investimentos tecnológicos para aumentar a produtividade no campo, o que alavanca a produção — disse o coordenador da CNA.
Riscos ambientais
Desafios climáticos e ambientais estão entre os principais riscos, vide a seca mais severa no Centro-Sul do país este ano e os desastres recentes com barragens da Vale. A resposta a essas vulnerabilidades, por outro lado, passa por mais investimentos em tecnologia, o que gera oportunidades, principalmente no setor de serviços.
Incidentes diplomáticos com a China e eventuais boicotes movidos pelo descontentamento internacional com a gestão do meio ambiente no Brasil também podem atrapalhar.
Sem esses obstáculos, José Carlos O´Farrill Vannini Hausknecht, sócio da MB Agro Consultoria, prevê ao menos três boas safras para o setor, devido à retomada econômica e a fenômenos como a segunda onda da peste suína, que ameaça o plantel chinês, com dólar alto:
— Talvez não seja um ciclo tão longo como nos anos 2000, mas com uma situação inédita: agora, por questões fiscais e políticas, a entrada extra de dólares não está derrubando as cotações. Há preços elevados, safra grande e dólar valorizado. A rentabilidade dos produtores está em patamar elevadíssimo.