BR-101, com sete dos dez trechos mais perigosos, ostenta trágica marca entre as rodovias federais brasileiras; somente em 2020, o km 208, em São José, registrou 65 acidentes
A BR-101 nunca deixou de ser notícia, mas, recentemente, está ocupando um destaque vergonhoso para Santa Catarina. Dos dez trechos por quilômetro com mais acidentes nas rodovias federais, sete estão na 101. Um deles é o km 208, em São José. Só em 2020, esse trecho teve 65 acidentes, tornando-se o mais perigoso de todos, entre as estradas federais brasileiras.
Os números estão na reportagem de Luan Vosnhak, que fecha a série Raio-X das Rodovias, exibida nesta segunda-feira (12) no ND Notícias, sobre as vias da Grande Florianópolis.
Os trechos da 101 que aparecem nas primeiras posições da lista têm, em comum, a receita fatal: trânsito urbano RODOVIáRIO sem infraestrutura. Com o crescimento desordenado nas cidades do entorno, a 101, entre Biguaçu e Palhoça, virou uma grande avenida, que recebe tanto o movimento local quanto o tráfego de quem viaja nos dois sentidos.
A companhia que administra o trecho tem pressa para concluir o tão sonhado Contorno Viário e, com isso, desviar o tráfego dessa região crítica. A conclusão da obra estava prevista para 2012, mas o atraso vai completar uma década ano que vem. A nova previsão é dezembro de 2023.
Sob pena de multa, a concessionária iniciou a construção da terceira faixa da BR-101 até Biguaçu. Um estudo aponta que os frequentes congestionamentos têm provocado prejuízos milionários para o transporte de cargas.
“Na maior parte do percurso, nossos caminhões andam a uma média de 39 km/h e isso, logicamente, traz um prejuízo enorme, porque poderíamos andar a média de 80 km/h. Temos um custo hora fixo de R$ 100. Ou seja, é um pedágio não oficial que pesa para a sociedade”, avalia o presidente da Fetrancesc (Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina), Ari Rabaiolli.
A conclusão do contorno, entretanto, não deve acabar com os problemas na 101. “Deve haver uma diminuição de 25% aproximadamente do trânsito aqui nessa região. O bom é que os veículos de grande porte vão se deslocar para o anel. Temos que começar a pensar em uma mudança no nosso modal de transporte, tanto de carga quanto de passageiros”, disse o chefe de comunicação da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Luiz Graziano.
Pedestres em risco na BR-282
A discussão também é levantada para outra rodovia federal da Grande Florianópolis: a BR-282. Um estudo conduzido pela Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina) sugere a criação de 69 km de terceiras faixas entre Lages e Palhoça.
“Pequenos investimentos podem melhorar a condição de trafegabilidade e segurança dessa importante rodovia. Se não houver recurso suficiente do governo federal, existem outras possibilidades, como parcerias público-privadas, ou a própria concessão”, propõe o presidente da Fiesc, Mario Aguiar.
A prioridade é o trecho de Santo Amaro da Imperatriz a Alfredo Wagner, onde o tráfego pesado passa no meio da cidade. O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) não informou previsão de recursos para que isso saia do papel. O investimento é de R$ 46 milhões.
Para o prefeito de Santo Amaro da Imperatriz, Ricardo Costa (MDB), este é o grande gargalo da 282 em relação à comunicação da Grande Florianópolis com o Oeste.
“Hoje, estamos usando as estradas secundárias para poder fugir da 101. A promessa de desviar o tráfego de dentro da cidade ficou lá atrás, há 30 anos”, lembra o prefeito.
Enquanto isso, sem nenhuma sinalização, pedestres se arriscam entre os veículos. “Aqui, tem dia que quase somos atropeladas, por causa das motocicletas que, às vezes, passam. É bem complicado aqui”, relata a doméstica Roselane Nilza da Silva Souza.
Os eternos alagamentos na SC-405
De uma manutenção simples a uma obra necessária para evitar os frequentes alagamentos que afetam motoristas e moradores. Há menos de um mês, a população do Rio Tavares, no Sul da Ilha, realizou um protesto bloqueando a SC-405. A reivindicação: um sistema de dragagem na via, que sempre fica alagada quando chove na região.
O município alega que, embora não seja de sua competência realizar o trabalho – a SC-405 é uma rodovia estadual – tem interesse na melhoria. E essa intenção se estende às oito rodovias estaduais que alcançam Florianópolis. Desde 2017, a prefeitura tenta a municipalização dos trechos, no entanto, quer uma contrapartida.
“Primeiramente, que o governo do Estado nos repasse o valor da manutenção que estão fazendo. Em segundo lugar, que a Polícia Rodoviária Estadual continue fazendo a fiscalização normal, como se fosse uma rodovia estadual, porque quem não pode sofrer é a população”, defende o secretário de Infraestrutura de Florianópolis, Valter Gallina.
Uma rodovia que ainda é estrada de chão
A SC-108, rodovia estadual, apresenta condições bem piores. O trajeto, que começa em Rancho Queimado, é asfaltado até Anitápolis. Mas de Anitápolis até Santa Rosa de Lima, a estrada é de terra, ou seja, 30 km de lama e muitos transtornos.
A prefeita de Anitápolis, Solange Back (MDB), disse que cobra a pavimentação da via, desde dezembro, do governo do Estado: “É uma questão de segurança para as crianças, os mais jovens e até para a população em geral, que usa essa rodovia para escoar sua produção, fazer suas compras nos municípios”.
O prefeito de Santa Rosa de Lima, Salésio Wimes (PT), disse que o governo tem sinalizado com a pavimentação para 2022. “Enquanto isso, é necessário fazer manutenção constante, semanal, ou mensal, para dar condições aos caminhões e automóveis”.
Mesmo sem infraestrutura, a rodovia é responsável pelo escoamento de 10% das aves abatidas por um grande frigorífico de São José, mas sair daqui é um tremendo obstáculo. “Todos os outros avicultores rezam para que não chova para poder conseguir tirar a produção, porque é complicado”, lamenta o agricultor Marcos Back.