Desde junho, a indústria calçadista engrena saldo positivo na diferença entre contratações e demissões / Lauro Alves / Agencia RBS
De julho a setembro, fábricas já superaram todo o saldo do primeiro semestre deste ano
Após sequência de quedas em parte do primeiro semestre, a indústria calçadista vive retomada no Rio Grande do Sul. Uma das frentes dessa recuperação ocorre no mercado de trabalho com carteira assinada.
Em setembro, o segmento liderou a criação de vagas dentro da indústria de transformação no Estado, com abertura de 2.268 postos. De junho a setembro, foram mais de 5 mil, superando todo o saldo do primeiro semestre do ano, que alcançou 3,4 mil. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, divulgado pelo Ministério do Trabalho e Previdência.
Após acumular perda de 3 mil postos de março a maio, o segmento fechou o primeiro semestre com saldo positivo graças ao bom desempenho de janeiro e fevereiro (veja mais abaixo). Desde junho, a indústria calçadista engrena saldo positivo na diferença entre contratações e demissões, e sem soluços. Especialistas e integrantes do setor citam a volta da circulação e o bom ambiente para exportações em razão do câmbio como fatores que explicam essa retomada.
O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, afirma que o segmento vive uma curva de recuperação com aumento do consumo interno e externo.
— A busca pela normalidade da sociedade como um todo aumenta o consumo de calçados e, consequentemente, a geração de emprego e de produção. As aulas presenciais e os eventos sociais também influenciam nesse sentido — explica Ferreira.
O dirigente destaca que, mesmo com o bom momento, o setor ainda não conseguiu retomar o patamar pré-pandemia. De janeiro a setembro deste ano, o Estado abriu 8,2 mil postos. No mesmo período de 2020, fechou 12,5 mil, segundo o Caged. Ferreira estima que o retorno ao nível pré-pandemia poderá ocorrer na primeira metade de 2022.
Especialista no setor, o professor de economia da Universidade Feevale José Antônio Ribeiro de Moura também cita que essa recuperação ocorre diante de uma demanda reprimida. Com o avanço do combate à pandemia, os hábitos de consumo das pessoas mudam, segundo o professor. Moura afirma que o consumidor que deixou de comprar esses itens durante os períodos de maior isolamento social voltou ao comércio no cenário atual.
O professor ressalta que a recuperação desse setor estimula outros ramos da economia de maneira indireta, fortalecendo a renda e o emprego em polos, como o do Vale do Sinos:
— O fluxo do setor coureiro-calçadista tem a questão de pecuária, maquinário, curtume, distribuidores, atacadistas, varejistas, ateliês, indústria química e tecnológica. Isso tem uma repercussão no aumento de admissões nesses setores indiretos.
O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Calçado e do Vestuário do Rio Grande do Sul (Feticvergs), João Nadir Pires, afirma que esse aumento de contratações também cria uma busca por mão de obra qualificada no setor.
— Tem uma disputa sadia, porque quem ganha com isso é o trabalhador. O salário oferecido, às vezes, é diferente de uma empresa para outra. A gente vê isso como uma valorização desse trabalhador mais qualificado na indústria — afirma Pires.