A retomada da expansão do mercado de caminhões e ônibus no Brasil foi bem mais lenta do que se esperava. Após rebaixar duas vezes a projeção de vendas durante o ano passado, a Anfavea, associação dos fabricantes, em setembro estimava que 2017 terminaria com 64 mil veículos comerciais emplacados, em pequena alta de 3,6% sobre o já fraco 2016. Errou de novo, o buraco era ainda mais embaixo. O total foi de 63,7 mil, leve aumento de 3,2%, sendo 51,9 mil caminhões (+2,7%) e 11,7 mil chassis de ônibus (+5,3%). Mas enfim o resultado foi positivo, após três anos seguidos de severa recessão que reduziu o segmento a menos da metade do que já foi, fazendo a ociosidade das fábricas saltar para 75%, na média.
“Viemos de um cenário de profunda recessão. Em janeiro de 2017 a queda das vendas de caminhões era de 33%. O porcentual negativo começou a recuar lentamente a partir de maio e só virou positivo já no fim do ano, sem tempo para grandes recuperações”, avalia Luiz Carlos Moraes, vice-presidente da Anfavea e diretor da Mercedes-Benz do Brasil responsável pela área de relações institucionais. Ele explica que basicamente só o segmento de extrapesados, com alta de 23,4% sobre 2016, sustentou o resultado do setor no azul, pois os outros tiveram desempenho negativo ou crescimento baixo: semileves +2,7%, leves -11,2%, médios +5,2% e semipesados -6,5%.
Para a Anfavea, o cenário mudará de vez este ano, quando se espera crescimento das vendas domésticas de quase 25%, para 79,5 mil veículos comerciais pesados emplacados, sendo 64,4 mil caminhões, em alta de 24%. “A safra deve continuar ajudando a vender mais extrapesados, mas esperamos a recuperação de outros segmentos também, como o de veículos para entregas urbanas que já caiu muito nos últimos anos. De qualquer forma, o porcentual de crescimento esperado é alto porque o volume ainda é muito baixo”, avalia Moraes.
Para o segmento de ônibus a expectativa é de vender 15 mil unidades em 2018, o que representa aumento de 27,6% ante 2016. “Houve já crescimento de 5,2% em 2017, mas sobre uma base de comparação muito baixa. Esperamos por retomada bem mais significativa este ano com as licitações do Refrota (para renovação de frotas urbanas) que devem acontecer nos próximos meses”, explica Moraes.
SALTO DE EXPORTAÇÃO SEGURA ALTA DA PRODUÇÃO
O pequeno porcentual de expansão das vendas domésticas de caminhões nem de longe foi suficiente para sustentar o crescimento na produção desses veículos em 2017, de 37% em relação ao fraco 2016, com quase 83 mil unidades produzidas. O que de fato sustentou o índice elevado foram as exportações de 28,3 mil caminhões, em alta de 31,3% e que representaram 34% do total fabricado.
A produção de chassis de ônibus também cresceu mais do que as vendas domésticas. As 20,7 mil unidades fabricadas representaram alta de 10,5% sobre 2016. Mas neste caso as exportações não progrediram percentualmente, caíram 6,4%, para 9,1 mil chassis, o que ainda assim significa quase metade da produção nacional.
Para 2018 a Anfavea projeta que produção e exportação de veículos pesados devem continuar a crescer em ritmo acima do mercado doméstico. A entidade calcula que serão produzidos 120,3 mil caminhões e ônibus, crescimento de 16,2% sobre 2017, e 42,2 mil serão exportados, alta de 12,8%. “Estamos explorando melhor os mercados externos e existem algumas novas licitações em curso para compras de ônibus urbanos em países como Chile e Colômbia”, conta Moraes.