Produtor brasileiro gasta 4 vezes mais do que o norte-americano com logística
As condições precárias da infraestrutura rodoviária brasileira tem causado grande impacto no escoamento de grãos. Maior produtor de soja do mundo, com o grão como o principal item da exportação do agronegócio nacional, o Brasil precisa resolver os problemas de infraestrutura para garantir a competitividade e qualidade dos produtores brasileiros no exterior.
“A logística é um dos grandes desafios para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Um dos motivos para isso é que temos um país com dimensões continentais entre cortado por rodovias, que levam mais da metade nossa produção, segundo estimativas do DNIT. Apesar dos esforços recentes do ministério da Infraestrutura do governo Jair Bolsonaro, de entregar novos trechos, licitar terminais e desenvolver nossa infraestrutura logística, temos um longo caminho ainda pela frente”, afirma o deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), coordenador político da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) na Câmara dos Deputados.
Com o mercado cada vez mais internacionalizado, quanto mais competitivo for o setor melhor. “Só que no Brasil, a ineficiência da infraestrutura tem aumentado muito o custo tanto na entrada do insumo quanto na saída do produto”, considera o deputado estadual Tião Medeiros, que foi eleito para deputado federal.
O produtor brasileiro gasta quase quatro vezes mais do que o norte-americano no transporte do grão. De acordo com o deputado, o custo logístico para a exportação de soja em grão é de US$ 91 no Brasil, de US$ 89 na Argentina e de US$ 23, nos Estados Unidos. “A falta de uma estrutura logística torna o custo da produção muito caro no país”, diz Medeiros.
As más condições das rodovias deixam o transporte somente da soja e do milho R$ 3,8 bilhões mais caro, conforme levantamento da Confederação Nacional do Transporte (CNT).
“Em nossas rodovias, há desafios com trechos não finalizados ou esburacados nos estados. Ainda mais com as recentes chuvas que atingiram estados como Espírito Santo e o Paraná. Aliás, aqui no Paraná, um trecho da BR-376 ficou completamente interditado por causa de um deslizamento de terra que atingiu pelo menos seis caminhões e quinze carros”, lembra Lupion.
Segundo dados da CNT, 73% das rodovias sob administração pública mostraram irregularidades, acarretando um acréscimo estimado de 35,2% nos custos operacionais. Além disso, 71,8% dessas estradas possuem o pavimento classificado como regular, ruim ou péssimo. Essas condições refletem diretamente no frete. Em média, quando um caminhão roda em uma via de qualidade regular, o valor aumenta em 41%. Em condições ruins 65,6%, e em péssimas condições o valor quase dobra, chegando a 91,5%.
Estima-se, inclusive, um consumo desnecessário de 956 milhões de litros de diesel, em 2021, devido à má qualidade do pavimento. Dados da NTC&Logística informam que os custos de manutenção, seguros e pneus apresentaram variações de 6,54%, 22,06% e 17,06%, respectivamente, em relação a 2020.
“O fato é que a infraestrutura não consegue acompanhar o crescimento da produção nacional, que cresceu quase 60% em uma década e a infraestrutura não cresceu na mesma proporção”, diz o deputado. Como o governo não tem orçamento suficiente para suprir toda essa deficiência, a saída é fazer concessões para o mercado privado aportar capital para destravar obras. “O governo precisa priorizar o investimento na infraestrutura, ainda que seja com consórcios entre o público e o privado, porque há uma defasagem muito grande”, complementa.
Qualidade da semente
Estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqLog) estima que, em 2020, o agronegócio perdeu 1,58 milhão de toneladas de soja. Enquanto os problemas de infraestrutura não são solucionados, o setor tenta buscar alternativas para tentar minimizar o impacto da falta de infraestrutura. A quebra de grãos, por exemplo, foi diminuída com os novos caminhões, que já estão mais preparados para evitar que o alimento fique pelo caminho. “Mesmo com esses desafios, seguimos confiantes no produtor rural brasileiro. Enfrentamos uma pandemia, não ficamos em casa, pelo contrário, fomos ao campo produzir alimentos para o mundo todo. E há anos conseguimos manter nossa balança comercial favorável”, finaliza Lupion.