O trinômio ESG, que alia práticas ambientalmente sustentáveis e socialmente responsáveis à governança corporativa, vem ganhando força exponencialmente nos últimos anos. Nos círculos majoritários, as práticas ESG têm ganhado protagonismo, sendo aceitas como o presente e o futuro dos investimentos e da governança corporativa. O termo – Environmental, social, and corporate governance – foi cunhado inicialmente para incorporar alguns dos fatores de risco associados aos investimentos, sob a ótica de que empresas que não aderem a boas práticas ESG estão mais expostas a risco no longo prazo.
Esse sistema vem gradualmente ganhando força econômica e, de acordo com informações da Morningstar reportadas pelo jornal Economist, o volume negociado em ETFs (Exchange Traded Funds) ESG já alcançava USD 2,8 trilhões no primeiro trimestre de 2022, o que é equivalente ao mercado total de criptomoedas. O jornal afirmou, porém, que, apesar da popularidade do ESG, os seus impactos nas emissões de carbono são desprezíveis e suas investidas sociais são difíceis de mensurar. Afirmou ainda, que a indústria ESG tem encontrado dificuldades em regular a si mesma.
Tentando abocanhar uma parte desse mercado trilionário, muitas empresas vêm adotando práticas escusas de divulgação de números e marketing em busca de uma aparência aderente às práticas ESG, mas sem fazer esforços reais de adequação. Essas práticas de maquiagem ambiental são chamadas de Greenwashing. De forma prática, o Greenwashing ocorre quando “uma empresa tem em um discurso ou coloca em uma embalagem de um produto que ela respeita o meio ambiente e tem práticas sustentáveis, mas, na prática, ainda agride o meio ambiente”.
O transporte, em todos os seus modais, vem recebendo cada vez mais atenção no que diz respeito às medidas de adequação aos padrões ESG. Isso acontece porque o transporte ainda é um dos grandes causadores de emissão de gases estufa, correspondendo em 2020 a 27% das emissões, a maior fatia entre todos os setores analisados. Com o aumento da pressão no setor de transporte por reduções na emissão de gases estufa, eletrificação de frotas e uso de biocombustíveis, surge também a tentação de adotar medidas mais brandas e menos custosas, mas também com impacto real reduzido ou inexistente, o Greenwashing.
Enquanto a adoção dessas ações de maquiagem ambiental possa parecer vantajosa à primeira vista, e com baixo risco, aos poucos os stakeholders vem qualificando suas análises, de modo a evitar investimentos em companhias que operam desta forma. Em um caso notório neste ano, Asoka Wöhrmann, CEO do DWS Group, a maior empresa de gestão de ativos da Alemanha, renunciou ao cargo depois de cerca de 50 policiais invadirem a sede da companhia sob denúncias de Greenwashing, que é especialmente grave no caso de empresas públicas. “O DWS negou qualquer irregularidade, mas mudou seus critérios ESG desde as revelações de Fixler. Em seu relatório anual de 2021, publicado em março de 2022, o DWS relatou apenas 115 bilhões de euros (R$ 583,3 bilhões) em ‘ativos ESG’ para 2021 –75% a menos que um ano antes, quando declarou que 459 bilhões de euros (R$ 2,3 trilhões) em ativos eram ‘integrados a ESG’”.
Felipe Donatti, da empresa de auditorias Deloitte, afirma que “o aumento nas denúncias de casos de greenwashing mostra como ter essa percepção de negócio sustentável se tornou importante para as empresas. No final das contas, os maiores prejudicados por essas práticas são exatamente aqueles que a praticam”. No entanto, destaca que é preciso diferenciar as empresas que estão desinformando daquelas que ainda estão aprendendo a divulgar seus dados.
Por fim, a melhor forma de combater o Greenwashing no transporte e em outros setores é promover a transparência. As empresas devem divulgar seus dados de impacto socioambiental com clareza, de modo a incentivar outros atores do segmento a fazerem o mesmo. Maquiar essas informações pode parecer simples, mas invariavelmente compromete a viabilidade do negócio no longo prazo.
THE ECONOMIST (London). A broken system needs urgent repairs. 2022. Disponível em: https://www.economist.com/special-report/2022/07/21/a-broken-system-needs-urgent-repairs. Acesso em: 13 set. 2022.
CNN BRASIL (São Paulo). Greenwashing: o que é e como identificar a prática da falsa sustentabilidade. 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/greenwashing-o-que[1]e-e-como-identificar-a-pratica-da-falsa-sustentabilidade/. Acesso em: 18 set. 2022
EPA. Sources of Greenhouse Gas Emissions. 2022. Disponível em: https://www.epa.gov/ghgemissions/sources-greenhouse-gas-emissions. Acesso em: 18 set. 2022
FOLHA DE S. PAULO (Hong Kong e Frankfurt). CEO de gestora do Deutsche Bank renuncia após operação policial contra greenwashing. 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/06/ceo-de-gestora-do-deutsche-bank-renuncia-apos[1]operacao-policial-contra-greenwashing.shtml. Acesso em: 18 set. 2022.
Por: Guilherme Cesca Salvan – COMJOVEM Região Sul de Santa Catarina