O centro de distribuição da Avon em Cabreúva (SP) envia 100 mil caixas com produtos para suas revendedoras por dia, cada uma preenchida por um conjunto de, em média, 30 itens diferentes.
Para que os itens sejam selecionados corretamente, o local tem 15 quilômetros de esteiras. Elas levam as caixas de um lado para o outro, com etiquetas informando o que deve ser colocado.
No caminho estão leitores de códigos de barras, sensores e balanças que identificam as caixas e conferem o conteúdo. Com as informações, o sistema define para onde cada uma deve seguir.
A maioria dos produtos é selecionada sem interação humana. Eles ficam armazenados no alto, empilhados no interior de uma série de colunas verticais sobre a esteira e são soltos sobre as caixas no instante em que elas passam.
Felipe Votto, diretor de logística da Avon para o Brasil, diz que a automação permite fazer a separação dos pedidos com a precisão necessária.
Ele afirma ter sido preciso trazer a tecnologia ao Brasil por causa do volume de vendas daqui.
“Se tivéssemos só 99% de acerto na seleção dos produtos, o que parece bom, teríamos 1.000 revendedoras recebendo algo errado por dia”, diz.
Como indica a companhia americana, os ganhos de eficiência que podem ser obtidos com a adoção de tecnologias ligadas à digitalização e à automatização que formam a indústria 4.0 não ficam restritos à fabricação de produtos.
A logística tem muito a ganhar com ferramentas como softwares que analisam grandes volumes de dados para traçar rotas e escolher transportadoras ou robôs que levam e trazem itens nos centros de distribuição, por exemplo.
Porém executivos e especialistas afirmam que a chegada dessas inovações no Brasil tem sido lenta e impulsionada por multinacionais, em razão de desafios como a falta de incentivo econômico, a recessão que fez empresários segurarem investimentos e a baixa informatização do setor.
Alex Tosetto, diretor sênior de TI para a América Latina da alemã DHL Supply Chain, diz que, como o custo da tecnologia no Brasil é alto e o da mão de obra é baixo na comparação com países desenvolvidos, há pouco incentivo para investir em automação.
“As empresas estão tendo de trazer a tecnologia mesmo com o investimento não se pagando no curto prazo.”
A companhia testa há um ano o uso de robôs e veículos autônomos em três de seus 56 armazéns brasileiros. Deve expandir o uso deles ainda em 2018.
Entre as máquinas adotadas estão empilhadeiras autônomas, drones e carrinhos que seguem operadores e carregam peso para eles.
Eduardo Banzato, diretor da consultoria em logística do Grupo Iman, diz que o Brasil precisa de mais desenvolvimento local de tecnologia para diminuir seus custos.
Outro desafio é fomentar uma cultura de inovação no setor, diz Angela Gheller Telles, diretora de manufatura e logística da empresa de software Totvs.
“O setor começa a olhar para a inovação. Mas ele é formado por muitas empresas familiares, que nasceram menores e cresceram sem criar uma cultura de informatização”, diz.
Há interesse das empresas brasileiras por se atualizar, e muitas estão testando novas tecnologias, diz Pedro Moreira, presidente da Abralog (associação do setor logístico).
Porém, há atraso e investimentos suspensos por causa da crise. “Daqui a cinco anos, a logística que faremos será muito diferente”, diz Moreira.