Com contratos importantes em fase final, os principais grupos que operam rodovias no país passarão por uma renovação nos próximos três anos e já se preparam para disputar leilões acirrados.
Até 2021, chegarão ao fim ao menos oito concessões relevantes que terão de ser licitadas novamente.
Juntas, elas somam cerca de 2.400 quilômetros de vias, e suas operações geram caixa de aproximadamente R$ 2 bilhões por ano, segundo dados das concessionárias de 2017.
Uma das maiores é a rodovia Nova Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.
A concessão, que vence em março de 2021, é operada atualmente pela CCR e representa 14,4% de toda a receita operacional bruta da companhia.
Calcula-se que a nova concessão da Dutra, em estudo pelo PPI (Programa de Parcerias de Investimentos do governo federal), gere R$ 15,5 bilhões em investimentos.
No âmbito estadual, um dos principais contratos, com vencimento já em junho de 2019, é o da Centrovias, responsável pela rodovia Washington Luís, no interior paulista.
Operada pelo grupo Arteris, a concessão, de 218 quilômetros, gerou um lucro líquido de R$ 121 milhões em 2017.
“Todas as concessionárias estão preocupadas em refazer seu portfólio”, afirma Isabella Magalhães, analista sênior da agência de classificação de risco Fitch Ratings.
Essa competição acirrada, diz ela, já ficou clara no mais recente leilão RODOVIáRIO do governo federal, da RIS (Rodovia de Integração do Sul), realizado em novembro do ano passado.
No certame, a CCR saiu vencedora de uma disputa com outros quatro concorrentes, com um lance considerado agressivo.
“As concessões que vão vencer nos próximos anos já têm uma geração de caixa consolidada, por isso atraem disputa grande, como foi o caso da RIS”, afirma Mauro Penteado, sócio de infraestrutura do Machado Meyer Advogados.
Para ele, além das licitações de concessões já existentes, as companhias terão boas oportunidades de renovar suas carteiras com projetos rodoviários em gestação pela União e pelos estados.
“Há um ciclo de novas licitações que a ANTT [Agência Nacional de Transportes Terrestres] e as agências estaduais estão elaborando. São várias concessões em estudo que terão suas modelagens finalizadas no próximo ano. Vejo um grande apetite por parte das operadoras”, diz o advogado.
As companhias já se prepararam para esse período de renovação, segundo Magalhães.
“As empresas reduziram o nível de seu endividamento de curto prazo, o que lhes permite entrar nos leilões e buscar novas dívidas. Financeiramente, estão em situação mais saudável”, diz ela.
Para os analistas, o principal fator que poderá afetar o apetite dos principais grupos do setor são as investigações da Lava Jato, que em 2018 atingiram concessionárias de rodovias que atuam no Paraná.
Em setembro, uma operação no estado prendeu executivos de grandes companhias do mercado.
Entre as concessões envolvidas em denúncias há contratos que vencerão nos próximos anos e terão de ser relicitadas.
“As investigações trazem incerteza. Para disputar os leilões, as empresas precisarão captar novas dívidas no mercado de capitais. Se forem consideradas culpadas ou tiverem multas, isso pode afetar a capacidade delas de acessar o mercado de dívida”, afirma a analista da Fitch.
Caso as investigações reduzam o fôlego dos grupos tradicionais, estes poderão perder espaço para outras companhias interessadas no setor, avalia Marcos Ganut, diretor da área de infraestrutura da consultoria Alvarez & Marsal.
“Há uma expectativa de que novos grupos possam entrar no mercado nos próximos anos e que o número de agentes se amplie, tal como ocorreu no setor de energia elétrica”, diz Ganut.
Esses novos concorrentes deverão ser companhias estrangeiras ou mesmo consórcios formados por fundos de investimentos, diz ele.
Para Penteado, porém, a tendência é que, apesar da Lava Jato, as concessionárias tradicionais mantenham força.
“Novos atores podem entrar, como grupos locais reunidos em consórcios. Mas a projeção é que continuem os players consolidados”, afirma Penteado.