As fontes de energias renováveis são recursos naturais continuamente regenerados na natureza, usados para produzir energias limpas e sustentáveis, como água, luz do sol, vento, matéria orgânica e calor interno da Terra. Embora esses recursos estejam disponíveis de forma abundante na natureza, eles não podem ser considerados inesgotáveis, por isso é necessário o consumo consciente.
Atualmente, os tipos de energias renováveis mais usados no Brasil são: energia hidrelétrica, eólica, solar e biocombustíveis. Essas fontes de energia proporcionam diversos benefícios econômicos, ambientais e sociais. A redução de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera é o principal benefício associado às energias renováveis, visto que interfere diretamente na situação climática do planeta, o que as tornam recursos chave para alcançar uma possível neutralização de carbono.
Em 2021, na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), a ONU convocou uma mobilização das nações em prol da neutralização de carbono até o ano de 2050, com o intuito de evitar uma possível catástrofe climática.
Desde então, governantes e grandes empresas se comprometeram a viabilizar e concretizar esse compromisso global. No que diz respeito ao setor de transportes, há uma pressão significativa para que a responsabilidade pela descarbonização seja assumida, dado que hoje representa cerca de 25% das emissões globais de GEE, considerando a queima de combustíveis fósseis em todos os modais de transporte.
Diante desse cenário, é evidente que o transporte RODOVIáRIO de cargas (TRC) desempenha um papel importante nesse compromisso global. Nos últimos anos, temas relacionados à descarbonização e à responsabilidade ambiental têm ganhado destaque no Brasil. Entre as empresas, o ESG tem se tornado um tema amplamente discutido, o qual consiste em um conjunto de práticas e critérios que avaliam a comprometimento de uma empresa com relação a questões ambientais, sociais e de governança. Concomitantemente, uma pauta relevante entre os governantes é o fomento ao uso de fontes de energias renováveis.
O aumento do conhecimento relacionado a esses assuntos, principalmente sobre a utilização de recursos renováveis e descarbonização, desempenha um papel essencial para promover a adoção desses recursos no TRC. Ainda que a implementação das fontes de energias renováveis não seja responsabilidade exclusiva do setor, ter maior entendimento sobre elas capacita os transportadores para desempenharem um papel mais ativo perante os governantes, o próprio setor e a sociedade. Essa capacitação possibilita uma grande contribuição no cenário futuro, trazendo uma influência maior nas decisões políticas, a redução de barreiras à adoção, o engajamento da indústria e de outros stakeholders, bem como a promoção da conscientização e a busca coletiva pela neutralização de carbono.
Para se comprometer com a neutralização de carbono, o TRC pode começar a sua mobilização considerando adotar as energias renováveis disponíveis. Destaca-se os caminhões elétricos, alimentados por baterias que possuem autonomia limitada a cerca de 200km, em razão disso eles têm sido usados em áreas urbanas, onde a infraestrutura de recarga é mais acessível e as rotas são menores.
A Braspress foi uma das pioneiras a adquirir caminhões elétricos para fazer entregas na capital paulista. Uma das vantagens apresentadas por Urubatan Helou, diretor presidente da empresa, é que os caminhões estão isentos do rodízio municipal, um dos incentivos promovidos pelo governo. Também destaca-se os caminhões a gás, abastecidos por gás natural veicular (GNV), que possui uma emissão de GEE de 70% a 85% menor quando comparado ao diesel. Os caminhões a gás possuem autonomia limitada a cerca de 1.700km e também podem ser abastecidos com biometano, combustível proveniente de matéria orgânica que já é produzido no Brasil.
Há energias renováveis com grande potencial para descarbonizar o TRC, ainda em fase de teste juntamente com os equipamentos compatíveis. O hidrogênio verde, por exemplo, já está sendo produzido e testado no Brasil, com caminhão compatível passando por testes na Europa. O biodiesel, que atualmente representa 12% da composição do diesel comum brasileiro, possui caminhão compatível com biodiesel puro sendo testado na França. Além disso, caminhões com sistemas móveis de energia solar que visam reduzir o uso do diesel comum passam por testes no Brasil.
A implementação de fontes de energias renováveis no TRC enfrenta desafios significativos. Um dos principais desafios reside nos custos iniciais elevados, o que pode ser uma barreira de entrada para pequenas e médias empresas. Além disso, a falta de infraestrutura de recarga elétrica e de pontos de abastecimento com GNV é uma questão relevante, que impacta na distância percorrida e no tempo de rota. Outro desafio é a autonomia limitada dos caminhões elétricos disponíveis no mercado, sendo em média 200km, o que se torna inviável para rotas de longas distâncias.
Para consolidar o uso das energias renováveis e possibilitar uma transição completa da frota atual para uma versão moderna, sustentável e compatível com essas fontes, é imprescindível promover mudanças no cenário brasileiro atual. Isso inclui a promoção de incentivos tecnológicos para empresas que produzem energias limpas e biocombustíveis, assim como para fabricantes de veículos. Também é fundamental o desenvolvimento de políticas e regulamentações que fomentem esses investimentos e estimulem a adesão das energias renováveis não apenas no TRC, mas em outros setores dependentes de fontes de energia do Brasil.
Apesar dos avanços tecnológicos e incentivos políticos serem cruciais para a consolidação das energias renováveis, o TRC pode se destacar através da gestão desses recursos em vários aspectos. A começar pela conscientização do setor e sua disseminação à população através de práticas sustentáveis, pois quando a relevância dessa transição for compreendida, ela passará a ser mais valorizada por todos. Além disso, é importante que os transportadores se comprometam a acompanhar o avanço tecnológico e a adotar as energias renováveis mais viáveis para suas operações.
Também é possível adotar boas práticas, como o ESG, indicadores de desempenho ambiental, otimização de rotas e gestão do consumo de combustível.
É importante ressaltar que a descarbonização já está sendo exigida por alguns embarcadores, tornando o momento atual propício para que os transportadores iniciem a gestão da emissão de GEE em suas operações. Atualmente, ferramentas especializadas em gestão de frota realizam esse cálculo, o ideal é optar por aquela que forneça relatórios detalhados com a quantidade de emissões diretas e indiretas, e que faça o inventário de acordo com os escopos e os critérios do GHG Protocol.
A partir desse cálculo, espera-se que as empresas compensem suas emissões através da compra de créditos de carbono, os quais apoiam instituições voltadas para a preservação dos recursos renováveis, como o plantio e a conservação de florestas, além do desenvolvimento de matrizes energéticas. É crucial que as empresas que adotem a gestão de emissões de GEE garantam total transparência no processo, divulgando publicamente suas emissões e compensações. Por fim, levanta-se uma consideração para reflexão: não seria interessante implementar essa prática e repassar os custos aos embarcadores, informando que a transportadora oferta “frete verde” com emissões de GEE compensadas?
Por: Bárbara Valente Tavares – COMJOVEM Triângulo Mineiro