A ponte para interligar as duas margens do Porto de Santos, no litoral de São Paulo, proposta pela Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI), visa atender o fluxo de veículos entre rodovias. A informação foi dada pela empresa, que também admitiu a necessidade de pedágio, durante audiência pública. O encontro reuniu 35 participantes, que se manifestaram contra e a favor do projeto.
A audiência foi a única prevista no licenciamento para a obra e lotou o Teatro Guarany, no Centro de Santos, na noite de terça-feira (16). Esta etapa condicionante previa a apresentação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e do Relatório de Impacto Ambiental (Rima), já entregues à autoridade ambiental, além do debate sobre o empreendimento.
O diretor superintendente da Ecovias, Rui Klein, abriu o encontro resumindo o projeto e encerrou, após questionamentos dos inscritos, respondendo algumas das demandas. Ele disse que a proposta da concessionária visa prioritariamente otimizar o tráfego entre as rodovias Anchieta (SP-150) e Cônego Domênico Rangoni (SP-055).
Klein explicou que o projeto quer encurtar a distância e reduzir o tempo de viagem entre as margens do porto. Segundo ele, a intenção é atender à demanda do tráfego comercial, principalmente entre os caminhões e carretas que precisam acessar terminais marítimos e empresas localizadas nas duas margens do Porto de Santos.
O local onde está prevista a ponte, conforme o diretor da Ecovias explicou, foi escolhido para atender essa demanda: entre a Alemoa e a Área Continental de Santos. Foram analisados sete pontos para uma ligação seca, mas segundo ele o “fundo do canal”, como definiu, é a área ideal para desenvolver o projeto no qual a empresa se propõe a fazer.
Apesar do objetivo principal do empreendimento não ser o de atender o fluxo de veículos de dentro das cidades, o superintendente afirmou que é possível que a ponte possa retirar até 50% do atual tráfego da travessia de balsas entre Santos e Guarujá. “Os modelos já mostram que se existir uma opção, o motorista vai preferi-la”, afirmou.
Rui Klein também admitiu a instalação de um pedágio, mas utilizou a palavra “bloqueio” para nomeá-lo – houve reação contrária da plateia durante essa fala. O executivo disse que é preciso garantir a manutenção do trecho e explicou que poderia ocorrer a “fuga” de tráfego da Domênico Rangoni, onde já há cobrança, prejudicando o sistema.
O diretor da Ecovias também afirmou que estuda eventuais impactos na Brasil Terminal Portuário (BTP), que opera contêineres em uma área vizinha ao acesso à ponte na margem direita. Entretanto, ele garantiu que o projeto está adequado ao desenvolvimento do porto no que diz respeito a outros terminais e a passagem de navios e cargas especiais.
Mais diálogo
Trinta e cinco participantes, entre empresários, representantes de entidades e munícipes, se inscreveram previamente para participar das discussões. Entre as principais dúvidas levantadas estão os reais impactos ocasionados, danos à natureza, limitações ao futuro do porto e do aeroporto civil, além da real contribuição à sociedade.
O secretário de meio ambiente de Santos, Marcos Libório, afirmou que a prefeitura defende uma ligação seca, mas espera a conclusão das discussões para saber a melhor. “A proposta hoje é um projeto de ponte. Se vai ser definitivo, a gente não sabe ainda, então teremos que aguardar um pouco. Mas essa etapa é muito importante”.
O secretário adjunto de meio ambiente de Guarujá, Ricardo de Souza, disse que a municipalidade também defende a construção de uma ligação entre as cidades, independentemente do projeto, mas que está preocupada com eventuais contrapartidas aos danos no meio ambiente. “Haverá compensação ao Guarujá?”, questionou.
O presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Casemiro Tércio Carvalho, que já declarou preocupação com limitações ao desenvolvimento do Porto de Santos em decorrência da ponte, acompanhou as discussões, mas não quis falar com os jornalistas. Ele se pronunciou por meio de nota, após o encerramento do encontro.
“A autoridade portuária continua aberta para construir soluções em conjunto com o governo do Estado de São Paulo no sentido de encontrar a melhor solução de infraestrutura que não limite a expansão do porto e resolva verdadeiramente a necessidade de uma travessia seca que sirva à mobilidade urbana entre Santos e Guarujá”, declarou à imprensa.
O presidente da BTP, Ricardo Arten, cuja expansão do terminal pode ser comprometida por causa do traçado da ponte, defendeu o diálogo para encontrar uma solução benéfica não somente ao porto, mas também para as cidades. “Não somos contra uma ligação seca, mas também não queremos restrições. O debate é importante”, afirmou.
A audiência pública foi presidida pelos membros do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) que avaliam agora as discussões e eventuais questionamentos a serem respondidos pela empresa ao órgão. O parecer do Consema será apresentado à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) para emitir ou não as licenças da obra.
Um século sem solução
Há pelo menos 92 anos, empresários e políticos apresentam projetos de uma ligação seca entre Santos e Guarujá. Essa história teve início quando o Governo de São Paulo era dirigido por Júlio Prestes, passando por Adhemar de Barros e as administrações de José Serra e Geraldo Alckmin, nas últimas duas décadas. Todos eles fracassaram.
Em fevereiro, entretanto, já no governo de João Doria, o secretário de Logística e Transportes de São Paulo, João Octaviano Machado Neto, confirmou que as obras da ponte que ligará Santos e Guarujá vão sair do papel. O projeto que está em andamento foi divulgado pelo ex-vice-governador do estado, Márcio França, no fim de 2018.
A proposta foi apresentada pela Ecovias, concessionária responsável pelo Sistema Anchieta-Imigrantes. De acordo com o documento, a ponte terá cerca de 7,5 quilômetros de extensão entre a entrada de Santos e o acesso à Ilha Barnabé (Área Continental), 85 metros de altura e 325 metros de largura entre os pilares no vão principal.
A estrutura proposta é contestada pela atual gestão da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que observa riscos ao desenvolvimento do Porto de Santos e defende a construção de um túnel entre as margens. Enquanto a ponte tem custo estimado de R$ 2,9 bilhões, a ligação submersa deve custar em torno de R$ 3,2 bilhões.