Estudo da Confederação Nacional do Trânsito (CNT) e entidades em Santa Catarina apontam para consumo desnecessário de combustível devido às más condições das rodovias brasileiras
Santa Catarina tem uma vocação industrial e competitiva de destaque, porém enfrenta gargalos logísticos para escoar sua produção. A situação limita o estado a explorar toda a sua capacidade como um grande provedor de proteína, entre outros produtos, para o Brasil e o mundo, o que requer soluções para minimizar os impactos e alavancar sua competitividade.
Estudo da Confederação Nacional do Transporte (CNT) aponta que as condições das rodovias no país levam a um maior consumo de combustíveis de forma desnecessária.
No cálculo apontado na Pesquisa CNT de Rodovias, teriam sido consumidos 1,139 bilhão de litros de diesel adicionais somente em 2023. A deterioração impacta nos preços do frete e, consequentemente, nos de produtos para o consumidor final, além de gerar maior emissão de gases poluentes.
Em Santa Catarina, empresas e entidades apontam que não é diferente. Para Ivalberto Tozzo, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Chapecó (Sitran), esses gastos geram grande impacto econômico.
A entidade tem uma base de 20 mil caminhões, com cerca de 160 milhões de quilômetros rodados por mês e contabiliza em torno de 120 mil cargas mensais.
“Os litros a mais consumidos levam a um custo do frete maior, acarretando aumento da mercadoria para o consumidor final e da matéria-prima para a indústria”, concorda o presidente do Sitran.
Tozzo avalia haver, além do maior uso de combustíveis, aumento do desgaste em componentes como pneus, o que também onera o frete e, por consequência, o consumidor final.
O dirigente da entidade completa que, como o fluxo de caminhões nas rodovias tem se tornado mais intenso nos últimos anos, com aumento também no tamanho das cargas que são comportadas nos caminhões, as estradas se deterioram mais rapidamente, tornando as adequações e manutenções necessidades constantes.
“Santa Catarina ficou muito tempo sem investimentos na infraestrutura para as rodovias e por isso estamos com esse gargalo muito pesado. Precisamos melhorar as estradas e ampliá-las, como a BR-282, a BR-153. A infraestrutura catarinense está muito aquém das nossas necessidades e estamos atrás do Rio Grande do Sul e do Paraná”, compara.
Ricardo de Souza, diretor de logística da Aurora Coop, reforça essa percepção. A cooperativa é uma das maiores do Brasil e tem as atividades concentradas no Oeste catarinense.
“Os valores gastos de maneira desnecessária em função da má infraestrutura são incorporados nos custos logísticos das empresas e, inevitavelmente, acabam sendo destinados ao custo final dos produtos, nos deixando menos competitivos”, pontua.
Na opinião de Souza, a duplicação de pistas simples e acesso aos portos seriam estratégias bem-vindas. Segundo ele, as estradas não são mais capazes de suportar a demanda, levando a menor fluidez e perdas de competitividade na indústria, no seu entendimento.
“Isso nos dá um grande nó logístico quando nós olhamos para produtividade e eficiência, agregando um custo maior e nos deixando menos competitivos”, reitera.
Em meio a esses pontos de atenção sobre a infraestrutura do Estado, Danielle Camini, diretora executiva do Sitran, destaca a importância de realização de programas de infraestrutura destinados à melhoria da qualidade das estradas e conscientização dos impactos para motoristas e para o setor de transportes e logística como um todo.
Estratégias para viabilizar a diminuição de acidentes e proporcionar um ambiente mais seguro são formas de otimizar as ações relacionadas ao escoamento de produtos no estado catarinense.
“Ações regionais, ações estaduais e federais são necessárias, olhando para a infraestrutura com políticas públicas, com a conscientização de toda a população do quanto é importante ter um setor de transporte e logística fortalecido”, sugere.
Claozenir José Barrilli, que é instrutor de motoristas há anos e percorreu milhares de quilômetros dentro e fora do Brasil, considera que a malha rodoviária não traz segurança no tráfego.
“Um segundo que o motorista perde a atenção é quando perde o controle do volante, pode capotar sozinho ou bater em alguém que venha ao seu encontro. Então o motorista precisa de muita atenção, esses trechos são cruéis, além de termos pistas sinuosas e com muitos defeitos”.
O sonho de Barrilli é que seja possível trafegar com pistas duplicadas, para que os produtos escoados em Santa Catarina, que considera ter um povo esforçado e trabalhador, sejam transportados com segurança.
Como está a reparação nas rodovias estaduais
A Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade (SIE) do governo do estado informou que realiza obras de reestruturação nas estradas estaduais por meio do Programa Estrada Boa.
A estratégia conta com 50 obras de implantação ou restauração de pavimento em andamento por todas as regiões de Santa Catarina, além de outros 50 segmentos rodoviários sendo revitalizados.
Com as duas medidas, um terço do total da malha viária estadual – que é de 6,2 mil quilômetros – passa por melhorias, incluindo pavimento, sinalização, ampliação de capacidade, construção de terceiras faixas, elevados, viadutos e novos sistemas de drenagem.
A Secretaria informou que planejava investir R$ 2,165 bilhões, mas já foram investidos R$ 2,4 bilhões. Esse valor excedente, de mais de R$ 300 milhões, é resultado de economias do governo e da Secretaria da Infraestrutura e Mobilidade, de acordo com o Estado.
A Secretaria considera todas as obras importantes, mas destaca que as melhorias previstas para o Oeste são estratégicas, diante do grande movimento de cargas agropecuárias.
“Essas obras no Oeste são estratégicas para melhorar a logística de transporte para exportação do setor, em especial por Santa Catarina ser o estado que mais exporta carne de frango e carne suína no Brasil”, destacou a pasta, em nota.