A cabotagem é a navegação entre portos marítimos de um mesmo país. Essa modalidade de transporte está ganhando destaque na matriz de transportes brasileira nos últimos anos. Enquanto o modal RODOVIáRIO representa cerca de 65% do total de transportes realizados no Brasil, a cabotagem não chega a 10%. Mesmo tendo crescido mais de dois dígitos nos últimos 2 anos, a cabotagem ainda é considerada pouco explorada, se comparada aos demais modais.
A cabotagem cresce a passos largos porquê ela oferece preços competitivos e surge como uma alternativa para o transporte de cargas. Em um país com dimensões continentais precisamos pensar em alternativas que nos proporcionem eficiência logística, e é a partir disso que surge a cabotagem como protagonista.
A greve dos caminhoneiros que aconteceu no ano de 2018 colocou a cabotagem em evidência e fez com que os demandantes por transporte vislumbrassem ali uma alternativa ao convencional transporte rodoviário. Logo na sequência veio a criação da tabela de fretes por parte da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a falta de apoio do governo federal com o segmento rodoviário. Tal tabelamento fez com que esse modal ficasse inviável principalmente para produtos considerados primários como os grãos, por exemplo.
Diante desses acontecimentos notamos que a cabotagem ganhou ainda mais destaque, e fez com que o mercado enxergasse novas possibilidades. No entanto, a cabotagem seria o fim do transporte rodoviário? Eu entendo que não, vejo que com o crescimento desse novo segmento teremos uma transformação no modo de transportar cargas, pois a cabotagem por si só não consegue atingir todos os pontos de entrega e justamente por isso é que continuaremos precisando do modal rodoviário para fazer a coleta no terminal portuário e a entrega na planta do embarcador. A cabotagem é viável para o transporte de cargas de longa distância (entre origem e destino) e que estejam a uma distância de até 300 km da costa brasileira, e o rodoviário por sua vez entra como complementar, coletando a mercadoria na planta do cliente fornecedor, levando até o porto de origem para embarque e depois fazendo a coleta no porto de destino e transportando até a planta do cliente comprador.
Nota-se, portanto, uma integração entre os modais e uma remodelagem do processo realizado atualmente, e não uma diminuição da utilização do modal rodoviário. Não vejo a Cabotagem como vilã nesse sistema, mas sim uma parceira para aumentar a competitividade do mercado nacional e
consequentemente o fluxo de negócios e circulação de mercadorias, com segurança e versatilidade.
O custo do transporte por cabotagem chega a ser em média 30% a menos que o custo do transporte terrestre, sem contar que quando falamos em risco a cabotagem também sai a frente, pois apresenta baixíssimo risco de avarias e de desvio de cargas, pois não sofrem pela falta de infraestrutura que assola as rodovias brasileiras, sem contar o iminente perigo que se sujeitam os caminhoneiros devido à falta de segurança de nossas estradas.
Vale ressaltar que uma das desvantagens da cabotagem em relação ao rodoviário é o transit time, isto é, o tempo de entrega que acaba sendo maior por dependerem de programações de embarque e desembarque nos terminais portuários, o que precisa estar muito bem alinhado também a expectativa e os fluxos de estoque do cliente comprador.
O avanço da cabotagem no Brasil vem sendo impulsionado também pelo atual governo federal através do Ministério da Infraestrutura que entende como necessário grandes investimentos para a revitalização dos terminais portuários para receber os navios de cabotagem, medida essa considerada primordial para o crescimento e desenvolvimento da matriz de transportes.
A integração entre os modais não deve mais ser um assunto para se deixar de lado, é preciso integrarmos nossos esforços para criarmos a melhor relação custo-receita. Diante disso observa-se que o modal rodoviário é a melhor alternativa para curtas distâncias enquanto a cabotagem se destaca nas longas distâncias. Não restam dúvidas então que a multimodalidade se torna cada dia mais heroína nesse processo, e é preciso pararmos de encará-la como concorrente do modal rodoviário, mas sim como uma aliada para aumentarmos o fluxo de transportes e a competividade do mercado nacional.
Responsável: Luiz Gustavo Nery