Para tentar se antecipar a possíveis embargos de países importadores às carnes brasileiras, sobretudo de frango, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou ao Valor que enviou ontem mesmo comunicados às embaixadas brasileiras em todos esses países com esclarecimentos sobre a Operação Trapaça.
“Na Carne Fraca, deflagrada em março de 2017, uma das grandes reclamações que ouvi dos países é que demoramos para informar. Mas hoje [ontem] a primeira coisa que fiz foi avisar nossos postos diplomáticos”, afirmou o ministro, que disse não acreditar que haverá embargos em série desta vez.
De acordo com o ministro, a principal mensagem aos embaixadores brasileiros, que será repassada aos governos dos países importadores, é que a Operação Trapaça se concentrou em irregularidades entre empresas privadas. Maggi também reiterou que o Ministério da Agricultura já havia identificado recentemente inconformidades com os índices de salmonela na carne de frango exportada.
Em função dessas inconformidades, antes da operação de ontem o ministério já havia proibido sete unidades de BRF, Seara (controlada pela JBS) e Aurora a exportar a 12 mercados, entre os quais União Europeia, Rússia, Cingapura e África do Sul. Em nota divulgada na manhã de ontem, o ministério reforçou que já havia identificado irregularidades.
Apesar da proatividade do Ministério da Agricultura realçada por Blairo Maggi, a União Europeia começou a cobrar já ontem explicações do governo brasileiro sobre a nova etapa da Carne Fraca para decidir se adotará ou não medidas adicionais sobre a importação da carne brasileira.
Anca Paduraru, porta-voz da divisão de Saúde e Segurança de Alimentos da UE informou que a Comissão Europeia, braço-executivo dos 28 países-membros do bloco, se preparava para enviar carta às autoridades brasileiras sobre a questão. A porta-voz disse que ontem mesmo acionou sua delegação diplomática em Brasília para obter informações relacionadas ao caso, “que poderia afetar as importações pela UE”.
Atualmente, segundo a porta-voz, a certificação pré-exportação adicional e os controles reforçados nas fronteiras da UE permanecem em vigor para carnes brasileiras, para garantir a segurança dos produtos importados pelo bloco comunitário. “A Comissão Europeia poderá adotar medidas adicionais no futuro ser for necessário à luz de outras informações que podemos receber”, acrescentou.
Em 2017, as importações totais de carne de frango da UE caíram 11%, mas as compras de produtos oriundos do Brasil recuaram 20%. Na carne bovina, as quedas foram de 8% e 18%, respectivamente. Atualmente, a carne de frango brasileira destinada à União Europeia é duplamente controlada. Primeiro no Brasil, onde tem que receber um certificado oficial, depois quando chega nas fronteiras do bloco, onde 100% das cargas são checadas. Como a carne bovina, a de frango também é submetida a exames microbiológicos.