Segundo entidade, novo ciclo de investimentos ganha impulso com redução dos juros, aprovação da reforma tributária, menor volatilidade do câmbio e demanda reprimida
A direção da Anfavea, entidade que representa as montadoras instaladas no País, informou nesta quinta-feira, 8, que o setor vive o maior ciclo de investimentos da sua história, na esteira do anúncio, no fim do ano passado, do novo regime automotivo. Segundo o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, entre investimentos de montadoras e de fornecedores de peças, estão previstos mais de R$ 100 bilhões até 2028 ou 2029.
Durante a apresentação dos resultados das montadoras em janeiro, Leite destacou que os investimentos começaram a se materializar após o lançamento do Mover, nome do programa desenhado para o setor com incentivos fiscais de R$ 19,3 bilhões até 2028 para a produção de carros mais seguros e menos poluentes. Só neste ano, os estímulos são de R$ 3,5 bilhões.
Desde o anúncio do programa, a Volkswagen ampliou seu plano de investimentos em R$ 9 bilhões, para R$ 16 bilhões até 2028, e a General Motors (GM) anunciou investimentos de R$ 7 bilhões no período de 2024 a 2028.
Nas próximas semanas, é esperado que a Stellantis, dona de marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, lance também novos investimentos.
Ao listar os motivos do novo ciclo de investimentos, o presidente da Anfavea citou a redução dos juros, a aprovação da reforma tributária e a menor volatilidade do câmbio, além da demanda reprimida e o retorno do imposto nas importações de carros híbridos e elétricos, medida adotada pelo governo para forçar a nacionalização das novas tecnologias.
Respondendo críticas ao Mover, Leite considerou que o programa tem valor baixo, mecanismos inteligentes e traz previsibilidade aos investimentos da indústria automotiva. “Vamos chegar a mais de R$ 100 bilhões de investimentos. Isso é muito emprego, pesquisa e desenvolvimento. Isso é fundamental para um país produtor, traz um direcionamento para a indústria”, declarou Leite. Ele ponderou que a premissa dos novos investimentos é que não haverá aumento da carga tributária no País.
Antes do presidente da Anfavea, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, informou que a pasta trabalha para anunciar a regulamentação do Mover após o Carnaval.
Na regulamentação, serão definidas as metas a serem perseguidas pela indústria para ter acesso aos benefícios do programa.
“Tenho certeza que vamos ter investimentos muito relevantes”, disse Alckmin, que abriu nesta quinta a apresentação do balanço mensal da Anfavea. O ministro chamou a atenção para a longa cadeia de produção de veículos, que abrange indústrias como aço, plástico e borracha, ao justificar a necessidade de um programa especial ao setor.
O vice-presidente salientou que investimentos de R$ 41 bilhões já foram anunciados pela indústria de veículos. “Temos esperança de que os investimentos se aproximem de R$ 100 bilhões”, disse.
Em sua intervenção, Alckmin também fez menções à reforma tributária, que, frisou, muda o patamar do País, desonerando tanto exportações quanto investimentos, ao acabar com a cumulatividade tributária. Disse ainda que o governo vem trabalhando em desburocratizar o comércio e ampliar acordos comerciais, junto do crédito para exportações, para ter uma indústria exportadora.
Produção em janeiro
A produção da indústria de veículos ficou em janeiro estagnada no volume de um ano atrás, refletindo a queda nas exportações e o avanço das importações no mercado doméstico. Entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, foram produzidos 152,6 mil veículos, praticamente repetindo, com leve queda de 0,1%, o número do mesmo mês de 2023.
Na comparação com dezembro, o recuo foi de 11,1%, conforme balanço divulgado nesta quinta pela Anfavea.
As vendas de veículos no Brasil em janeiro, de 161,6 mil unidades, subiram 13,1% na comparação anual. Ante dezembro, que teve o maior volume de veículos vendidos em um mês em quatro anos, houve queda de 35%. É normal o mercado perder força no início do ano, quando a renda das famílias está comprometida com gastos como matriculas escolares e o pagamento de IPVA e IPTU.
Apesar do número positivo, a Anfavea informa que os carros importados tiveram em janeiro a maior participação nas vendas dos últimos dez anos. A cada dez veículos vendidos, praticamente dois (19,5%) vieram de fora do País, sendo que os carros chineses responderam por um quarto das importações.
Com a corrida dos consumidores para aproveitar os carros em estoque que não pegaram a volta gradual do imposto de importação sobre veículos híbridos e elétricos, a participação dos modelos eletrificados, que têm a China como grande fornecedor, alcançou o recorde de 7,9% em janeiro.
Já as exportações começaram 2024 com queda de 43% na comparação com o mesmo período de 2023, em desempenho atribuído à desaceleração econômica em vizinhos como Argentina, Colômbia e Chile, que estão entre os principais destinos dos carros brasileiros no exterior. As montadoras embarcaram ao exterior 18,8 mil veículos no mês passado, o que representa uma queda de 26,6% frente a dezembro.
O balanço da Anfavea mostra ainda que as montadoras criaram 950 vagas de trabalho no mês passado, empregando agora 99,9 mil pessoas. As projeções da entidade, atualizadas no início do mês passado, apontam para um crescimento de 6,2% da produção de veículos neste ano, como resultado de um aumento de 6,1% das vendas internas e de 0,7% das exportações.