Aumento dos juros no mercado futuro deve esfriar o ritmo de crescimento da concessão de crédito e contribuir para uma acomodação da demanda doméstica
A atividade econômica mundial desacelerou ao longo do terceiro trimestre, o que levou os principais bancos centrais a reduzir as suas taxas de juros nos últimos meses.
Nos EUA, o arrefecimento do consumo e das encomendas levaram as empresas a diminuir a procura por novos trabalhadores, enquanto a imigração tem colaborado para o aumento da oferta de mão de obra. Isso trouxe um maior equilíbrio ao mercado de trabalho, e a taxa de desemprego passou de 3,5% em julho do ano passado para 4,2% em agosto deste ano.
Nesse ambiente, a perspectiva de que a inflação retornará para o centro da meta no médio prazo levou a autoridade monetária a iniciar o ciclo de redução da taxa de juros em setembro, do intervalo 5,25% a.a. – 5,50% a.a. para 4,75% a.a. – 5,00% a.a., processo que continuará ao longo dos próximos trimestres.
Na China, o mercado imobiliário permanece em retração, e a confiança do consumidor continua em patamar historicamente baixo, prejudicando as vendas no varejo. A contenção de custos e a busca por novos mercados favoreceram a queda do preço dos produtos exportados pelo país asiático, o que contribuiu para a forte alta de 10% do volume vendido ao exterior nos últimos doze meses.
Dessa forma, o desaquecimento da atividade mundial colabora para a desinflação dos países emergentes.
No Brasil, a atividade econômica deverá acomodar neste semestre, após a forte expansão na primeira parte do ano. Os primeiros seis meses foram beneficiados por medidas pontuais, como o pagamento de precatórios atrasados no final do ano passado, e pela antecipação de despesas do governo, como o décimo terceiro salário de beneficiários do INSS.
Essas medidas não devem se repetir no semestre corrente, arrefecendo a expansão da renda disponível das famílias. Além disso, o aumento da curva de juros no mercado futuro, nos últimos meses, deverá esfriar o ritmo de crescimento da concessão de crédito e contribuir para uma acomodação da demanda doméstica nos próximos trimestres. Assim, estimamos expansão do PIB real de 2,9% em 2024.
As contas externas permanecem saudáveis.
O saldo comercial continua robusto e acumulou superávit de US$ 91 bilhões nos doze meses encerrados em agosto, com aumento do volume exportado de commodities. A conta corrente apresentou déficit de 1,8% do PIB no período, patamar confortável.
A inflação continua bem-comportada.
O IPCA-15 variou apenas 0,13% em setembro, acumulando 4,1% em doze meses. As principais métricas de núcleos tiveram desempenho benigno, como os serviços subjacentes e serviços intensivos em mão de obra. Esse último apresentou alta de 3,6% no trimestre encerrado em setembro, considerando os dados com ajuste sazonal e anualizados, abaixo da média do período 2017-19.
No entanto, o risco de curto prazo está relacionado ao clima, com a elevação da tarifa de energia elétrica através do sistema de bandeiras e a possibilidade de impacto nos preços de alimentos.
Projetamos IPCA de 4,3% ao final deste ano.
No âmbito fiscal, o resultado primário do setor público consolidado acumulou déficit de 2,3% do PIB nos últimos doze meses, incluindo o elevado pagamento de precatórios atrasados e compensações a estados e municípios em dezembro do ano passado.
Excluindo esses dois efeitos pontuais, o déficit fiscal seguiu em torno de 1,4% do PIB no período. A contenção de despesas e o efeito de medidas de receitas na segunda parte do ano devem levar o resultado primário para -0,7% do PIB até o final do ano, valor próximo da meta ajustada à ajuda ao Rio Grande do Sul e às queimadas.
O Banco Central do Brasil (BCB) elevou a taxa Selic para 10,75% a.a. em setembro, conforme esperado pelos economistas. A autoridade monetária justificou o aumento dos juros no seu comunicado pela “resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas”.
Considerando nossa expectativa de arrefecimento do consumo das famílias neste semestre, acreditamos que o Banco Central do Brasil optará por promover um moderado ciclo de ajuste da taxa Selic para 11,50% a.a.