Estudo finalizado em julho pelo consórcio PRO-TL, formado por cinco empresas vencedoras de um edital em 2018, serve de base para as discussões
O governo de São Paulo vai realizar audiências públicas até o fim do ano para debater a viabilidade de um programa logístico de passageiros e cargas a ser desenvolvido ao longo dos próximos 20 anos. O investimento privado pode chegar a R$ 70 bilhões na estimativa do estado, sendo 77% para o setor ferroviário.
O plano prevê linhas de expresso de cargas, trens intercidades e obras rodoviárias e ferroviárias na macrometrópole paulista, que compreende os arredores da capital e dos municípios de Campinas, Sorocaba, Baixada Santista e São José dos Campos.
Um estudo finalizado em julho pelo consórcio PRO-TL, formado por cinco empresas vencedoras de um edital em 2018, serve de base para as discussões. Ele estrutura alternativas para desafogar o trânsito e acelerar o transporte de cargas ao Porto de Santos.
O consórcio reúne a consultoria DB Internacional, a Progen, de engenharia, a TTC Engenharia de Tráfego e de Transportes, a assessoria econômica Addax e o escritório Tozzini, Freire, Teixeira e Silva Advogados.
A Secretaria de Logística e Transportes está apresentando a ideia a entidades de classe para colher informações. Já teve reuniões com o Instituto de Engenharia e com a ABCR (Associação Brasileira das concessionárias).
Algumas demandas aguardadas há tempo, como o trem que ligará São Paulo a Campinas, com concessão prevista para 2022, já serão contempladas nesse arranjo intermodal, de acordo com João Octaviano Machado Neto, secretário da pasta.
“Quando acabarem as concessões vigentes nos próximos anos, as novas serão licitadas à luz do PAM-TL [Plano de Ação de Transporte e Logística para a Macrometrópole Paulista]. Uma das primeiras a nascer dentro desse contexto novo pode ser a da Linha Verde”, afirma.
A Linha Verde é uma nova rodovia que ligará a capital paulista ao Porto de Santos -cujos contêineres hoje são recebidos quase exclusivamente pela Anchieta. Duas empresas apresentaram propostas e têm até novembro para formular os planos para as obras.
“Esperamos [que a concessão] seja no ano que vem”, diz Octaviano.
Além de ligar o Rodoanel ao porto e à Rodovia Cônego Domênico Rangoni, o corredor logístico também poderá servir como acesso ao litoral paulista, o que melhoraria o fluxo de Anchieta e Imigrantes.
O contexto novo ao qual se refere o secretário de Transportes é um sistema intermodal com projetos de 600 km de infraestrutura ferroviária, 300 km de rodovias e 13 plataformas de logística a ser implantado até 2040. Ainda trata-se de um estudo preliminar cujas discussões estão em fase embrionária.
A partir dessa estrutura, o governo quer desenvolver, por meio de concessões e PPP (Parceria Público-Privada), trens elétricos de dois andares, com suporte para 1.200 pessoas, que conectem São Paulo a Campinas e ao aeroporto de Viracopos, a Sorocaba, Santos e São José dos Campos.
O objetivo é operar, na mesma estrutura TIC (trem intercidades) de passageiros, um “serviço intermodal caminhão-trem-caminhão” para o transporte de cargas (sistema chamado Expresso Cargas). Esse vetor comportaria trens de 800 m de comprimento e 41 vagões capazes de carregar 1.250 toneladas e atingir 120 km/h.
A ideia é que grãos e produtos industriais com destino a Santos, por exemplo, sejam transportados sobre a mesma ferrovia que pessoas. A alternativa desafogaria as rodovias dos veículos e de caminhões. A produtividade dos troncos radiais da macrometrópole é considerada baixa: 32% dos caminhões circulam vazios.
Pela proposta, carregamentos do interior do estado chegariam a centros de distribuição situados em plataformas logísticas regionais (como de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos), onde seriam unitizados em caixas apropriadas ao transporte, chamadas de VUCBoxes.
Lá, passariam por classificação, separação e etiquetagem para o envio direto aos destinatários, assim como é feito nos grandes armazéns de empresas do varejo. Depois, seriam acomodadas nos vagões do Expresso Cargas com destino às plataformas logísticas urbanas, onde seriam carregadas em caminhões leves e semileves para a entrega nas cidades.
Todo esse processo, incluindo o serviço, ficaria com o setor privado. Ao setor público caberia fomentar e fiscalizar o desenvolvimento das ações.
Além de desestrangular as rodovias, a intenção da pasta é transformar a região em um “hub logístico continental”.
“É um posicionamento estratégico que prepara São Paulo para enfrentar, em um futuro não remoto, a dura concorrência logística de Rio de Janeiro e Espírito Santo”, aponta o estudo, referindo-se à dinamização das áreas dos portos de Itaguaí e Açu, no Rio, e o futuro Porto Central do Espírito Santo.
A participação rodoviária no Brasil, de 61%, é considerada muito grande na comparação com outros países de grande extensão. Em países bem menores da União Europeia e no Japão, a participação é de 50%.
Segundo o PAM-TL, a presença desse modal em São Paulo se aproxima de 90% na matriz de cargas e é de praticamente 100% na de passageiros intermunicipais. O estudo alerta para o risco de esgotamento se nada for realizado.
Um dos pleitos do governo paulista para tirar o planejamento do papel é incluir os estados na regulação da operação ferroviária, exclusiva do governo federal.
O estudo cita outros projetos laterais que precisam se desenrolar para garantir a eficácia do plano, como o do Ferroanel, há décadas aguardando um desfecho, e o da Rodoanel Norte, em processo de licitação e com conclusão prevista para 2023.
A 4ª revolução industrial, ou Indústria 4.0, vem mostrando cada vez mais que o futuro da manufatura está na geração, integração, análise de dados e a digitalização do chamado “chão de fábrica”. Essa é uma realidade que vem tomando conta das empresas, independente do seu porte, e esses são os fatores que vem trazendo visibilidade das operações ao gestor e tomada de decisões mais assertivas e rápidas.
Depois que os celulares e as redes móveis chegaram, ocorreu uma transformação no modo com o qual nos relacionamos com a tecnologia. As interações se tornaram mais comuns e a experiência do usuário é cada vez mais habitual ao que se costuma utilizar no meio online. A conectividade ganhou destaque e hoje a internet é tão comum quanto a eletricidade ou água encanada nas residências. E para a Indústria isso não é diferente, o uso de tecnologia no chão de fábrica para a coleta massiva de dados de equipamentos e processos também tem seus benefícios.
É por meio de soluções tecnológicas que é possível diminuir custos e melhorar a produtividade. E com a chegada do 5G o cenário será ainda mais favorável, podemos dizer que teremos um grande marco para a conexão entre equipamentos, pessoas, processos, serviços e produtos. Neste novo mundo conectado, às tecnologias sem fio vão permitir a reconfiguração em tempo real de uma linha de montagem para atender um cliente específico sem a necessidade de infraestruturas complexas (cabos, redes, fibra óptica etc.), tudo isso graças a grande velocidade do 5G, mais rápido do que conexões cabeadas.
A visibilidade das operações de manufatura aliadas à capacidade de mudanças rápidas permite a conexão da produção com o consumidor final em velocidades nunca antes imaginadas. Para exemplificar, vamos traçar um possível cenário: a indústria fabrica um produto (uma bomba de água por exemplo), este produto passa pelo processo de montagem, estoque, distribuição, consumidor final e assistência técnica. Cada etapa com os seus relatórios, tempos e dados guardados em papel, planilhas ou arquivados em algum arquivo.
Com a manufatura conectada, cada produto produzido é acompanhado em tempo real pelo gestor da operação que identifica se a produção está conforme o planejado, se existe gargalo na linha de montagem e se todos os equipamentos estão funcionando corretamente e ao invés de produzir para estoque, o sistema de pedidos enxerga em tempo real o que o consumidor está demandando, otimizando todos os custos de estocagem, e indo além, cada bomba de água sai de fábrica equipada com sensores de operação que informam para a fábrica em tempo real como o produto está funcionando, permitindo ações preventivas da assistência técnica e gerando dados para melhoria de produtos, tudo isso de forma rápida, segura e global.
A realização de coisas incríveis a distância fará parte do nosso dia a dia, conectividade e visibilidade da cadeia de valor, transparência e agilidade para tomada de decisões, vulnerabilidades tratadas rapidamente e o usuário sendo atendido no momento exato com o produto correto. A altíssima velocidade e baixa latência (tempo de resposta) das conexões 5G tornarão as operações em nuvem imperceptíveis dando escala a todas as operações que exigem tomada de decisões e cálculos complexos, às vezes impossíveis de serem realizados localmente.
Assim, a tecnologia 5G não é somente útil para podermos baixar filmes em segundos, mas para termos um dia a dia mais seguro, com decisões mais assertivas e também com mais saúde, afinal podemos ser atendidos por um médico especialista que poderá realizar uma cirurgia controlando um robô a 500 km de distância sem o risco de “perder a conexão”. A Internet das Coisas na 4ª revolução industrial é sobre a geração e inteligência de dados, a conectividade de operações e toda a cadeia agindo de forma uníssona e uniforme e o 5G permitirá essa realidade em um futuro muito, mas muito próximo.
*Mauricio Finotti, coordenador do Comitê de Manufatura da Associação Brasileira de Internet das Coisas (ABINC)
Após aproximadamente dois anos desativado, o núcleo da COMJOVEM de Maringá reiniciou suas atividades no último mês de julho. Aproveitando o momento de recuperação econômica ocasionada pela vacinação contra a Covid-19, os empresários voltaram a atuar para aperfeiçoarem suas atividades e melhorar o desempenho de suas empresas.
Com a inserção do núcleo de Maringá, a COMJOVEM possui agora 24 núcleos distribuídos pelas cinco regiões do Brasil: norte, nordeste, sul, sudeste e centro-oeste. Desenvolvido pela NTC&Logística, a Comissão de Jovens Empresários da entidade já atua há 14 anos capacitando e aprimorando o networking entre os jovens transportadores por meio da inserção deles em atividades com os sindicatos e os eventos de promoção do setor.
A nova coordenadora do núcleo de Maringá, Luana Jaloto Gonçales, que atua também como Coordenadora do Sistema de Gestão Integrada (SGI) da Jaloto Transportes, acredita que a reabertura é uma ótima oportunidade, ainda mais em um período pós-pandemia. “No meu ponto de vista é uma chance para os jovens empresários do TRC de Maringá. O desenvolvimento profissional, a interação e a preparação que a COMJOVEM traz é enorme. Além disso, a retomada do setor após a pandemia é uma oportunidade de crescimento para os jovens empresários do seguimento.
Ela abrirá novas integrações e a preparação de novos projetos que irão somar e contribuir com o nosso ramo”.
Um dos valores assumidos pela COMJOVEM e trabalhados pelos seus integrantes é o compromisso ético. A nova coordenadora destaca que o transporte de cargas é um setor que necessita transmitir a imagem de confiança entre os empresários e os colaboradores das empresas. Luana complementa dizendo que “em uma empresa de transporte, a ética se encontra em todos os setores, seja na diretoria, na manutenção, nos gestores ou, sobretudo, para mim, nos motoristas. Devemos ser exemplo, buscando sempre a integridade e a direção certa para o transporte de carga existir”.
Para Andre de Simone, coordenador nacional da COMJOVEM, a reabertura do núcleo de Maringá é de extrema importância para a região e para a composição da comissão em todo o Brasil. “Estamos muito felizes com o interesse e disposição da coordenadora Luana de atuar em favor do setor de transportes na sua região por meio dos jovens empresários e executivos, com certeza ela fará uma gestão inspiradora e continuará o legado iniciado por outros grandes nomes em Maringá”.
Com o objetivo de ser uma figura feminina de referência no transporte de cargas em Maringá e no Brasil, Luana busca inspirações em exemplos de sucesso na área. “Sempre observei as mulheres da minha família (em especial a minha mãe), a frente de setores dentro da Jaloto que me serviu e ainda serve de inspiração para meu crescimento profissional e pessoal. Gosto de tomar como base o trabalho das mulheres referência dentro do transporte, como a nossa vice-coordenadora nacional da COMJOVEM, Joyce Bessa, e espero que algum dia eu também seja inspiração às outras mulheres no transporte de cargas” – conclui a nova coordenadora.
Ela enxerga com otimismo a presença das mulheres nos cargos de gestão no ambiente corporativo, em particular no TRC – em que, cada vez mais, funções operacionais e de diretoria são assumidas por gestoras qualificadas que apresentam diariamente resultados positivos.
O presidente da NTC&Logística, Francisco Pelucio reforça, “A COMJOVEM precisa continuar evoluindo o transporte de cargas por todo o país e estamos felizes com a reabertura do núcleo, que com certeza irá contribuir ainda mais com a região de Maringá, e todo o Paraná, que tem uma grande importância para o transporte brasileiro, desejo sucesso nas atividades e continuem contando com a NTC”.
Desempenho deve antecipar os investimentos R$1,5 bi na segunda fase de expansão do terminal
A retomada da economia global após a crise causada pela Covid-19 em 2020 está sendo mais forte do que as previsões iniciais e o setor portuário cresce na mesma proporção. O Porto Itapoá vem acompanhando essa performance .
O terminal registrou um aumento de 41,3% nas importações no primeiro semestre de 2021. Foram quase 70 mil contêineres contra 48 mil no mesmo período de 2020. As exportações tiveram um peso menor, mas ainda assim foram 8,5% maiores que o mesmo período do ano anterior: quase 50 mil contêineres em 2021 contra 45 mil em 2020.
Nas cargas de cabotagem houve um crescimento de 9,7%. Foram mais de 15 mil contêineres neste primeiro semestre de 2021 contra pouco mais de 13 mil movimentados neste período em 2020. Considerando a movimentação total, o Porto Itapoá teve um aumento de 11,3%: 238 mil contêineres em 2021 contra 214 mil nos primeiros seis meses de 2020.
Do total de cargas movimentadas pelo Porto Itapoá, cerca de 50% são de empresas de outros estados. A outra metade da movimentação é de cargas de companhias de Santa Catarina, incluindo automóveis e autopeças, motores elétricos, metalmecânica, linha branca e exportação de carga frigorificada, atendendo a forte agroindústria do estado.
Outra operação em que o Porto Itapoá vem operando é o de cargas especiais — BreakBulk —, como foi o caso da exportação de duas lanchas de grande porte para os Estados Unidos.
Com essa demanda crescente, o Porto Itapoá já planeja a nova etapa de expansão que está orçada em R$ 1,5 bilhão e tem previsão de conclusão em cinco anos. Com isso, a capacidade de movimentação anual de até 1,2 milhão de TEUs vai superar a marca de 2 milhões de TEUs por ano.
Entenda como essa prática pode ajudar na preservação do meio ambiente
Ter uma “farmacinha” em casa é um hábito tradicional do brasileiro. Seja para tratar um desconforto como um resfriado ou para aquela dor de cabeça que surge de repente. Mas você sabe o que fazer quando esses medicamentos não têm mais serventia ou passaram do prazo de validade? Uma coisa é certa, se não forem descartados da maneira correta podem ser prejudiciais para o meio ambiente e também colocar em risco a vida de outras pessoas.
Pesquisa do Conselho Federal de Farmácia realizada em 2019, por meio do Instituto Datafolha, revelou que 76% dos entrevistados já descartaram incorretamente esses resíduos. Ainda de acordo com a pesquisa, a maioria da população tende a se livrar das sobras de medicamentos no lixo comum, e quase 10% jogam os restos no esgoto doméstico. Esses são percentuais preocupantes e nos mostram que a falta de conhecimento sobre o potencial tóxico desses produtos favorece para que ocorra um descarte inadequado.
O serviço de logística reversa oferecido gratuitamente por algumas redes de farmácias, se tornaram uma alternativa importante para quem busca fazer o descarte consciente. Um exemplo é o que o Grupo DPSP, responsável pela gestão das redes Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo, realiza desde janeiro de 2021. A companhia disponibiliza as quase 1.400 lojas da rede para a coleta desses itens e, desde o início da ação, já recolheu aproximadamente 5 toneladas de medicamentos vencidos ou em desuso.
Os materiais depositados nas estações são encaminhados por meio de veículos próprios até os centros de distribuição e, posteriormente, encaminhados para uma empresa parceira.
“Temos o compromisso de promover e viabilizar o descarte consciente de medicamentos e pilhas como forma de minimizar os riscos para a vida de outras pessoas e ajudar na preservação do meio ambiente”, diz Andrea Sylos, diretora Comercial e Marketing do Grupo DPSP.
Além de medicamentos, o Grupo DPSP também coleta pilhas, em parceria com a empresa Green Eletron, gestora de logística reversa de eletrônicos e pilhas. Por meio do site, os clientes podem consultar quais são os coletores mais próximos de sua residência. A reciclagem é realizada pela empresa parceira e, no processo, o zinco é recuperado e posteriormente empregado na fabricação de novas unidades. Já os outros materiais presentes na composição são reutilizados na produção de pigmentos para pisos cerâmicos.
Relatório do IPCC alerta para aumento do desmatamento e consequências para a Amazônia
Diante do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado na manhã desta segunda-feira (9), especialistas ouvidos pela CNN concordam que o papel que o Brasil precisa assumir diante do cenário de crise ambiental inclui mudanças na maneira como é conduzido o agronegócio.
As razões não são apenas ecológicas — são também econômicas. Conforme o físico Paulo Artaxo, pesquisador na Universidade de São Paulo (USP) e uma das maiores referências mundiais sobre aquecimento global, o relatório indica que no “Brasil central o aumento da temperatura pode chegar a 4 ou 5°C nas próximas décadas”. “São mudanças muito fortes que podem inviabilizar o agronegócio como temos hoje”, ressalta. “O Brasil precisa olhar com muito cuidado as conclusões do relatório do IPCC.”
Estudos recém-publicados já vinham sugerindo isso. Trabalho realizado pela engenheira ambiental Rafaela Flach, da Universidade Tufts, nos Estados Unidos — publicado pela revista World Development — estimou em mais de 3,5 bilhões de dólares por ano os prejuízos da indústria da soja por conta do calor elevado. Segundo o trabalho dela, a produtividade do grão cai 5% a cada dia com temperatura acima de 30ºC.
Em maio, a revista Nature publicou outro trabalho que seguia a mesma toada. De acordo com os pesquisadores, entre eles o engenheiro florestal Argemiro Teixeira Leite Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a estiagem decorrente do desmatamento já implica em gastos anuais adicionais de 1 bilhão de dólares por ano para a agropecuária realizada na região sul da chamada Amazônia Legal.
Amazônia
O X da questão é a Amazônia. Com o avanço descontrolado da agropecuária para terras antes ocupadas pelo bioma, a floresta brasileira gradativamente deixa de ser um grande sumidouro de dióxido de carbono e se torna um emissor do gás.
“No caso brasileiro, não é tanto negacionismo climático, como se vê em outros países grandes como Estados Unidos e Austrália, mas sobretudo desconhecimento”, acredita o biólogo Mairon Bastos Lima, pesquisador no think tank sueco Instituto Ambiental de Estocolmo. “As coisas muitas vezes são apresentadas como ocorrendo dentro da sua variabilidade natural, como sendo fruto do El Niño ou de alguma outra dinâmica que se tenta explicar, mas o que este relatório do IPCC reafirma é precisamente que o clima do planeta não está dentro da sua variabilidade normal.”
“Talvez haja menos um negacionismo e mais um receio em contar ao público brasileiro que mais de 70% das emissões brasileiras provêm da agropecuária ou do desmatamento”, acrescenta.
O relatório mais recente do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima, mostra que em 2019 quase a metade de todas as emissões brasileiras vieram do desmatamento. Esses dados haviam caído de 2004 e 2010, e voltaram a subir a partir de 2012. “A agropecuária, por si só, mesmo excluindo as emissões pelo desmatamento, ainda emite mais do que toda a indústria brasileira e transpor somados”, calcula Lima.
O relatório IPCC apresenta o risco dos chamados “eventos de alto risco e baixa previsibilidade”. Um deles está na Amazônia. “É onde o desmate reduz a evapotranspiração, que por sua vez compromete ainda mais as chuvas”, explica Lima. “Isso pode fazer com que a floresta entre num ciclo autodestrutivo. Menos árvores, menos chuva, e se transformar numa savana. É o chamado ‘forest dieback’, que este relatório pela primeira vez explicitamente reconhece.”
“Para o Brasil já não basta zerar emissões, mas remover o que está na atmosfera. E, a floresta amazônica precisa ser protegida urgentemente, pois ela é um dos grandes sumidouros naturais de carbono do planeta. É necessário zerar o desmatamento e favorecer os serviços ecossistêmicos para reduzir nossa vulnerabilidade diante das mudanças climáticas”, comenta o engenheiro florestal Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.
“Se passarmos do ponto de não-retorno no qual esse processo tem início, as consequências são gravíssimas”, acrescenta o Lima. “A Amazônia está diretamente envolvida no chamado Sistema de Monção da América do Sul, que gera as chuvas — das quais dependem muito da agricultura e das hidrelétricas brasileiras — do Sudeste e Centro-Oeste do Brasil de novembro a março. O relatório do IPCC aponta que esta região pode experimentar um aumento de temperatura até duas vezes maior que a média global. Então o problema diz respeito a nós muito diretamente.”
Águas e conta de luz mais cara
Outro aspecto trazido pelo IPCC que implicaria diretamente sobre o Brasil, com seus 7,4 mil km de costa marítima, é o aumento do nível do mar, em decorrência do aquecimento global. “Pode chegar a até 1 metro nas próximas décadas. Imagine o impacto em cidades como Santo, Rio de Janeiro, Recife e Florianópolis? O impacto no Brasil é enorme e somos nós quem temos as maiores vulnerabilidades”, afirma, o físico Paulo Artaxo, pesquisador na USP.
Pesquisador no Instituto do Homem e Meio Ambienta da Amazônia (Imazon), o engenheiro florestal Paulo Barreto atenta para o que o brasileiro já está vendo na conta de luz, mais cara para frear o consumo. “O Brasil está mais seco e a tendência é que piorará sem a redução drástica das emissões de poluentes que causam o aquecimento global”, afirma.
“As secas mais frequentes, acompanhadas de queimadas, vão empobrecer a floresta amazônica. A floresta mais rala terá menos capacidade de modular a quantidade de chuvas em outras regiões do país. Já estamos vendo alguns efeitos do que isso significa: menos chuvas estão reduzindo a produtividade agropecuária no sul da Amazônia, reservatórios das hidrelétricas estão reduzidos e rios mais secos dificultam o transporte de cargas em hidrovias.”
Natalie Unterstell, presidente do think thank Talanoa, dedicado à POLíTICA climática, e mestre em políticas públicas pela Universidade de Harvard, atenta para outros impactos decorrentes da previsão de aumento generalizado de secas afetando as regiões norte e nordeste do Brasil, “mesmo em cenários de baixa emissão”. “Diversas regiões da América do Sul vão experimentar o que chamamos de secas agrícolas e ecológicas. Isso quer dizer que eles preveem impactos em larga escala sobre a produção agrícola, quebras de safra e isso, obviamente, vai impactar em questões como inflação”, ressalta. “Isso tem conexão com as preocupações de bancos em tentar regular os riscos climáticos, gerir os riscos climáticos. Porque isso pode afetar nossa estabilidade financeira e controlar alguns componentes da macroeconomia.”
“Infelizmente, o poder público tem atuado na direção contrária do que seria necessário para reduzir e adaptar ao risco climático. Além de já ter reduzido a proteção ambiental que resultou em aumento de desmatamento, o governo e Congresso estão aprovando uma lei que tenderia a aumentar o desmatamento por vários anos”, diz ele, sobre o projeto conhecido como PL da grilagem. “A lei beneficia invasores de terras públicas – dando um perdão e possibilitando a compra das áreas por preços muito abaixo do mercado. Esse prêmio aos criminosos estimula novas ocupações e mais desmatamento.”
Essa postura brasileira pode sair cara economicamente. Conforme ele ressalta, há um movimento crescente na Europa que busca “impor uma taxa a produtos importados de países com políticas ambientais fracas”. “O Brasil deveria ser mais ativo na busca das soluções, interna e externamente”, defende. “O Brasil poderia conseguir recursos internacionais para ajudar a conservar as florestas nativas e a reflorestar para ajudar a ‘limpar o ar’, ou seja, retirar o carbono da atmosfera pelo crescimento das árvores.”
Agropecuária
Para o pesquisador Leite Filho, o IPCC deu uma “chamada”, indiretamente, ao Brasil ao indicar que o desmatamento impacta na questão das chuvas e, por consequência, prejudica o próprio agronegócio. Na fronteira agropecuária brasileira, ou seja, no limiar da Amazônia Legal, isso é um verdadeiro ciclo vicioso.
“Não tem como o Brasil continuar com essa narrativa de que desenvolvimento necessita de destruição florestal”, ressalta ele. “É importantíssimo a gente entender que é necessária a mudança de paradigma. O relatório fala que haverá um aumento de seca em várias regiões do globo, mas esses efeitos variam — em alguns pontos haverá aumento na precipitação; em outros, secas severas. Na bacia amazônica, a previsão é de secas fortes, a precipitação deve diminuir à medida que o mundo for se aquecendo.”
“Como grande parte da fronteira agrícola do Brasil avança ali, em direção à floresta, precisamos verificar também o desmatamento, qual a responsabilidade que temos quanto a isso. Já há evidências de que a Amazônia emite mais CO2 do que é capaz de absorver, devido ao desmatamento”, acrescenta o pesquisador.
Em comunicado divulgado à imprensa, o WWF-Brasil ressaltou que o relatório aponta, para o Brasil, que “não basta zerar as emissões — é preciso remover o carbono já existente na atmosfera”. “Como a floresta Amazônia é um dos grandes sumidouros naturais de carbono do planeta, sua preservação é mais importante que nunca”, diz o texto. “Estudos indicam que partes da floresta já estão emitindo mais carbono do que capturando, em função de sua degradação que, se persistir nos níveis atuais, poderá pressionar todo o bioma além de seu ponto de equilíbrio, afetando o clima em todo o planeta, mas mais especificamente na América do Sul, colocando em risco a segurança alimentar, hídrica e energética do Brasil.”
A CNN procurou o Palácio do Planalto, os ministérios do Meio Ambiente, da Agricultura e de Minas Energia e o Conselho da Amazônia para comentar o relatório e a opinião dos especialistas e aguarda retorno.
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