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Com alta acumulada de 12,3%, indústria lidera reação da economia gaúcha no primeiro trimestre

por | maio 20, 2021 | Indústria de Transportes, Notícias, Outros, Serviços

Fonte: Zero Hora
Chapéu: Indústria

Recuperação mais consistente de comércio e serviços depende do avanço da vacinação e da retomada da confiança dos consumidores

Após um ano marcado por incertezas e instabilidade econômica, a indústria tem protagonismo na tentativa de retomada no primeiro trimestre deste ano no Rio Grande do Sul. O segmento é o único entre os três principais setores da economia no país a apresentar crescimento na comparação com o mesmo período de 2020, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De janeiro a março deste ano, a produção industrial cresceu 12,3% no Estado, em comparação aos três primeiros meses de 2020, quando o impacto da pandemia no país ainda era incipiente. O desempenho do Rio Grande do Sul acompanha o resultado positivo do país, 4,4%, mas com fôlego bem maior. Fabricação de máquinas e equipamentos e de produtos de metal estão na ponta desse avanço.

O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), André Nunes de Nunes, afirma que esse movimento no setor ocorre na esteira do crescimento observado na segunda metade do ano passado após um primeiro semestre fraco em razão da crise sanitária:

— A indústria ainda vem produzindo para tentar atender a essa demanda reprimida de 2020 por conta do período mais intenso de pandemia.

Ao analisar o desempenho da indústria mês a mês neste início de 2021, a produção apresenta elevação em janeiro e queda em fevereiro e março, levando em conta a comparação imediata com o mês anterior. Nunes explica que isso é normal, pois os primeiros meses do ano são comparados com o pico de produção registrado na reta final de 2020.

— A indústria do Rio Grande do Sul, por exemplo, chega em novembro de 2020 já produzindo a mesma quantidade que produzia no pré-pandemia. Ela vem de um nível muito alto lá em dezembro e janeiro e começa, a partir de fevereiro e março, na medida que os estoques começam a se adequar, a se estabilizar, a ver uma redução de produção na margem — explica Nunes.

O setor de serviços, carro-chefe da economia no país, recuou 4,9% no Estado em relação ao ano passado, segundo dados divulgados pelo IBGE na semana passada. O mau desempenho no período foi puxado pelo grupo de serviços prestados às famílias, com retração de -22,6%. Esse segmento também agrega atividades de hotelaria e de alimentação, que estão entre as mais impactadas pelas restrições de circulação.

O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Marcelo Portugal avalia que a mudança de hábito dos consumidores durante a pandemia é um dos fatores que ajudam a explicar o pior desempenho dos serviços na comparação com a indústria.

— As pessoas passaram a consumir mais bens e menos serviços. Houve uma mudança no padrão de consumo das famílias. Isso gerou uma necessidade, um aumento de demanda para a indústria, em especial para aquilo que a gente chama de indústria de transformação, que produz o automóvel, a geladeira, o móvel etc — destaca Portugal.

No comércio, o tombo foi maior no período, segundo pesquisa do IBGE. O setor recuou 7,1% no primeiro trimestre deste ano. Na comparação entre os meses, o setor apresentou crescimento em fevereiro e voltou a ter queda em março, mas em patamar menor ante janeiro.

A economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS), Patrícia Palermo, elenca o período sob bandeira preta no distanciamento controlado do Estado como um dos fatores que acabaram freando o avanço do comércio nos primeiros meses do ano.

— A gente enxerga, nesses meses do ano, uma repercussão negativa do recrudescimento da pandemia e, consequentemente, das ações do governo do Estado em relação às atividades — afirma Patrícia.

A economista explica que existe uma diferença grande entre os subsetores de comércio e de serviços, com algumas cadeias se saindo melhor na recuperação diante do distanciamento e das restrições. Ou seja, segmentos que conseguem se adaptar melhor à nova realidade, como o de supermercados e de alimentação a domicílio, acabam apresentando resultados melhores durante a instabilidade.

O pesquisador Martinho Lazzari, do Departamento de Economia e Estatística (DEE), da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, destaca que o tombo registrado nos setores, principalmente em março deste ano, foi menos impactante do que o esperado, pensando em um cenário onde a abertura das atividades ficou mais restrita no controle da pandemia.

— Mesmo com as restrições no mês de março, o efeito foi bem menor do que março de 2020. Parece que lá em 2020, mesmo que tenha sido somente na segunda parte do mês, o efeito sobre a atividade foi muito mais forte.

Lazzari destaca que ainda é cedo para estimar o impacto do desempenho dos setores no Produto Interno Bruto (PIB), que deve ter o resultado do primeiro trimestre divulgado em junho.

DESEMPENHO DOS SETORES

VARIAÇÃO ACUMULADA DE CADA SETOR NO PRIMEIRO TRIMESTRE

Na comparação com o mesmo período do ano anterior (em %)

DESEMPENHO DOS SETORES

VARIAÇÃO ACUMULADA DE CADA SETOR NO PRIMEIRO TRIMESTRE

Na comparação com o mesmo período do ano anterior (em %)

Retomada com mais fôlego passa pela vacina

O professor Marcelo Portugal prevê um cenário mais propício para retomada da economia, principalmente no setor de serviços, nos próximos meses. O economista destaca o avanço na vacinação como um dos ingredientes que permitem esse otimismo.

— Acho que a perspectiva é de melhoria no setor de serviços. Pela soma dessas coisas todas: vacina, menor medo por parte da população e menor restrição por parte do governo — pontua.

A economista-chefe da Fecomércio também relaciona o crescimento mais expansivo nos próximos meses ao movimento de imunização no país. Patrícia Palermo destaca que é importante nessa soma, juntamente com a vacinação e a reabertura dos setores, o retorno da confiança dos consumidores, isso porque, em momentos de crise e incerteza, acaba-se apertando o cinto nos gastos futuros, priorizando itens essenciais.

— Se avançarmos na vacinação, as restrições e as incertezas futuras diminuírem, fazendo com que as pessoas estejam mais disponíveis a consumir bens e serviços, veremos crescimento — avalia.

A economista destaca que esse movimento é igual no comércio, mas que o setor tende a se recuperar mais rápido em relação ao de serviços, que tem a característica de aglomeração em alguns segmentos.

Na indústria, o economista-chefe da Fiergs estima estabilidade na produção, com algumas oscilações no volume mês a mês, mas com acumulado positivo no ano. Nunes destaca a recuperação de alguns setores no âmbito da exportação em razão do câmbio elevado, como o de couro e calçados, celulose e papel e produtos químicos, o que torna o ambiente mais atrativo.

O pesquisador Martinho Lazzari destaca que, além do funcionamento das atividades em um cenário com condições melhores, o mercado de trabalho também precisa reagir nos próximos meses para gerar uma retomada mais consistente.

— A gente vê que os dados de intenção de consumo estão muito baixos ainda no Rio Grande do Sul, bastante em função dessa ausência de uma expectativa mais forte de recuperação de emprego, de ter um emprego mais firme.