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Comércio exterior brasileiro tem superávit recorde de US$ 61 bi em 2021

por | jan 6, 2022 | Cotidiano, Internacional, Notícias, Outros, Urbano

Fonte: O Globo
Chapéu: Comércio

Porto de Santos Foto: Jonne Roriz / Agência O Globo

Exportações e corrente de comércio também são as mais altas da história. Importações apresentaram maior valor desde 2014

A balança comercial brasileira fechou 2021 com um superávit acumulado de US$ 61,008 bilhões, o maior valor desde o início da série histórica, em 1997. O saldo é resultado de US$ 280,394 bilhões em exportações  e US$ 219,386 bilhões em importações.

As exportações e a corrente de comércio (US$ 499,8 bilhões, soma das vendas com as compras externas) também foram as mais altas da história. Os embarques ao exterior aumentaram 34% em relação a 2020 e superaram o recorde de 2020, de US$ 56 bilhões.

Já as importações cresceram 38,2% em relação ao ano anterior e apresentaram o maior valor desde 2014, quando foi de US$ 230,8 bilhões. Foi o quinto maior resdultado para os gastos no exterior. 

Os números foram divulgados, nesta segunda-feira, pelo Ministério da Economia. Segundo a pasta, as exportações tiveram crescimento significativo para os Estados Unidos (44,9%), o Mercosul (37%), a União Europeia (32,1%) e a China (28%).

O Brasil comprou mais produtos do  Mercosul (44,7%), dos EUA (41,3%), da China (36,7%) e da União Europeia. Um dos destaques da pauta de importações foi o crescimento de 87,1% das aquisições de combustíveis e 89% de energia elétrica. Também chamaram atenção aumentos por insumos e produtos intermediários (45,7%) e por vacinas (77,1%), como reflexo da pandemia de Covid-19.

Nova onda de Covid

Lucas Ferraz, secretário de Comércio Exterior, afirmou que, em 2021, houve forte recuperação da economia mundial, como resultado do aumento da cobertura vacinal em países desenvolvidos e em desenvolvimento como o Brasil — que também acabou se beneficiando do aumento dos preços de commodities agrícolas e minerais.  Ferraz ressaltou que ainda há incertezas no cenário mundial, como a possibilidade de uma nova onda de Covid-19 e a adoção de medidas restritivas ao comércio, como os europeus.

Ele divulgou as primeiras projeções do governo para a  balança comercial de 2022: exportações mais elevadas, de US$ 284 bilhões e, em função de um desempenho mais fraco das importações, um superávit de US$ 79,4 bilhões.

— Mas são números preliminares, que são reavaliados a cada três meses — disse ele. 

2022 será mais fraco, afirmam especialistas

A expectativa de bater recordes nas exportações e no saldo da balança comercial neste ano não deve se repetir em 2022, apesar das boas perspectivas principalmente para os exportadores, apontam especialistas da área.

Do lado de quem vende, principalmente commodities como soja e minérios, o ano não será tão forte como 2021, mas o patamar de exportações permanecerá alto pela demanda global aquecida e a expansão da produção agrícola do país.

Já as importações devem subir mesmo com o câmbio em patamares elevados. A tendência é que os níveis superem os anos anteriores por dois principais fatores, a base de comparação é muito baixa e a demanda por combustíveis deve continuar em alta. Com isso, o saldo comercial não deve repetir o recorde deste ano, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

—  Saldo é consequência, não causa. Como consequência, teremos uma redução dos superávit, porque a redução das exportações faz com que tenha um superávit menor — explicou o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

 A expectativa é que a recuperação econômica das economias centrais, como EUA e China, que ainda devem contar com pacotes de estímulos, contribuam para uma demanda alta de minérios, segundo a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.

— Esses países estão fazendo muitos projetos de reformulação de matriz energética, construção de estradas. Então todas aquelas empresas que estão expostas a esses setores tendem a se beneficiar, minério de ferro, aço, tudo que é atrelado a infraestrutura e energia — apontou a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.

 No setor agrícola, Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e estrategista de comércio exterior do Banco Ourinvest, explica que, sem previsão de impactos na safra de 2022, como a falta de chuvas que ocorreu neste ano, os produtos que devem se destacar são soja e milho.

— Teremos um cenário importante de crescimento dos principais importadores do Brasil, há expectativa de crescimento da China, também dos EUA e dos demais países asiáticos, isso é um fator que mantém a alta demanda de commodities  — explicou.

Mas nem todos os sinais são positivos. Segundo o presidente da AEB, José Augusto de Castro, é difícil fazer um prognóstico para 2022 porque é um período cheio de incertezas que afetam os preços de produtos importantes para a balança brasileira, como o minério de ferro e o petróleo.

A projeção da AEB de US$ 262,4 bilhões em exportações em 2022, abaixo da estimativa de US$ 281 bilhões do governo.

 — Em 2021 o comércio brasileiro cresceu muito por conta do preço e em 2022 a expectativa é que você tenha uma queda de preço. Como subiu muito em 2021, haverá acomodação, pequena queda. É exatamente o que estamos verificando neste momento, o petróleo cai, o minério também — disse o presidente.

  Pelo lado das importações, a tendência é de alta. A AEB projeta US$ 227,9 bilhões, contra uma expectativa do governo de US$ 210,1 bilhões neste ano.

Castro explicou que as vendas já estão subindo nos últimos meses deste ano por conta da crise energética, movimento que deve continuar em 2022, mesmo com o câmbio em patamares ainda altos.

 — A crise energética está fazendo com que tenhamos que importar muito mais derivados de petróleo, óleos combustíveis, tudo isso, porque você está aumentando o consumo por conta das termelétricas — explicou.

Já Barral destacou que, além da questão energética, o patamar alto do dólar diminuiu as importações nos últimos anos e, mesmo que o câmbio continue apreciado, as vendas devem subir por conta da base de comparação ser baixa.

— Não há expectativa de mercado para ano que vem que o câmbio caia, deve manter uma volatilidade grande oscilando entre R$ 5 e R$ 6, isso de um lado não incentiva as importações, mas como elas estão num patamar muito baixo e como o preço das importações está subindo, deve ter um aumento — disse.