O governo federal lançou nesta quarta-feira (14) no Fórum Econômico Mundial, em São Paulo, um pacote de incentivos à modernização do parque fabril brasileiro para estimular a chamada “indústria 4.0”. O programa tem como objetivo destinar até R$ 8,6 bilhões em financiamentos a empresas e zerar a alíquota de importação de robôs.
O pacote começou a ser discutido após a constatação de que a indústria 4.0 – que abrange tecnologias como impressoras 3D, inteligência artificial e internet das coisas – é responsável por uma nova revolução industrial em escala global enquanto o Brasil não aproveita as possibilidades já existentes. Ao longo de ao menos nove meses de discussão com mais de 50 entidades, o governo federal concluiu que os incentivos são necessários para ajudar empresas a acelerarem a adoção das tecnologias para aumentar produtividade e eficiência.
Apesar das diferentes medidas incluídas no pacote, os financiamentos representam o principal estímulo. Algumas linhas estarão disponíveis de imediato, mas em até 90 dias todas serão disponibilizadas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) será responsável por R$ 5 bilhões em crédito que já contará com o novo spread reduzido de 1,7% para 0,9% – conforme anúncio das novas taxas em empréstimos feito pela instituição na semana passada.
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por sua vez, concederá R$ 2,5 bilhões usando a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) mais até 1,5% ao ano. Já o Banco da Amazônia (Basa) vai fornecer R$ 1,1 bilhão, com taxas de 4,5% a 6,5% ao ano.
O ministro do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), Marcos Jorge, afirmou ao Valor que é “urgente” modernizar a indústria. “Menos de 5% das empresas brasileiras podem ser conceituadas como 4.0, o que exige o apoio do governo. Nossa meta é aumentar esse índice para pelo menos 15% em até oito anos”, disse. Segundo ele, os mecanismos de incentivo a essas tecnologias já são usados por Alemanha, Estados Unidos, China e Portugal.
Para o Mdic, ainda há grande desconhecimento no país acerca do tema. Por isso, parte do programa vai incluir medidas para divulgar e “sensibilizar” empresários sobre o assunto por meio de seminários e workshops. As empresas poderão também usar um portal do governo para “medir” o grau de maturidade do negócio em relação às possibilidades tecnológicas existentes hoje. A meta é que pelo menos três mil empresas sejam avaliadas nos próximos dois anos.
Também faz parte do programa a escolha de 20 projetos para testar potenciais inovações em ambientes reais que podem ser, posteriormente, aplicadas no processo produtivo. Esse item do programa está sendo chamado de “fábricas do futuro” e vai destinar R$ 20 milhões aos candidatos escolhidos.
O pacote do Mdic também tem como objetivo estimular a aproximação entre startups e indústrias consolidadas. Batizado de Startup Indústria 4.0, o item foi incluído no programa para destinar R$ 30 milhões até 2019 para que novas empresas desenvolvam soluções tecnológicas para as indústrias.
Também serão postas em prática medidas na área da educação. Entre elas, a capacitação de 1,5 mil professores de educação profissional e tecnológica para formar estudantes para a indústria 4.0 e, dessa forma, elevar a oferta do mercado de trabalho para o segmento.
A equipe do Mdic acredita que a incorporação das tecnologias traria “uma transformação profunda” nas plantas fabris sobre a produtividade, a redução de custos, o controle sobre o processo produtivo e a customização da produção. Segundo levantamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a estimativa de redução de custos industriais no Brasil com as possibilidades 4.0 será de, no mínimo, R$ 73 bilhões ao ano. Essa economia envolve ganhos em itens como eficiência (46% do total estimado), redução nos custos de manutenção de máquinas (42%) e consumo de energia (cerca de 10%).