Estudo aponta necessidade de portos e ferrovias exclusivos para escoamento de combustíveis
Para se dar uma volta completa no planeta Terra é necessário percorrer um pouco mais de 40 mil quilômetros. Parece muito, mas as empresas de distribuição de combustíveis estão acostumadas a ver seus caminhões percorrerem essa quantidade de quilômetros em menos de uma hora. A maior empresa distribuidora de combustíveis do país, a Vibra, antiga BR Distribuidora, fez as contas e, todos os dias, ela dá 27 vezes a volta no planeta. São mais de um milhão de quilômetros. Todos os dias. Esses números dão a dimensão do que é o desafio para se entregar gasolina, diesel e etanol em todos os cantos de um país continental como o Brasil em que a malha rodoviária ainda responde por 65% da matriz logística.
No momento em que o mundo já vive uma transição energética e as empresas de óleo e gás são cobradas a reduzir suas emissões, a logística virou questão importante também no quesito ambiental e de custo para o consumidor. Se um carro já polui em um dia mais do que o metrô em 30 dias, imagine uma frota de caminhões.
O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), que reúne as empresas do setor, fez um levantamento com o apoio da Leggio Consultoria que mostra que se forem feitos investimentos da ordem de R$ 8,7 bilhões em ferrovias, dutos e portos dedicados diretamente para o setor, haverá uma redução de 15% das emissões de gases do efeito-estufa, segundo a consultora Camilla Rodrigues Affonso. Mais do que isso, os ganhos com a eficiência dada pela nova infraestrutura vão fazer com que os custos totais da distribuição de derivados sejam reduzidos em R$ 2,6 bilhões a partir de 2035. “Os dutos para a curta distância são extremamente competitivos. Mas na longa distância essa competitividade é viabilizada pelas ferrovias”, disse Affonso durante o Rio Oil & Gas.
Os investimentos também são necessários para acabar com o gargalo logístico que vai piorando na medida em que o país cresce. “Em 2014, quando havia despacho pleno das termelétricas, todas as reportagens eram sobre gargalo logístico. Vem crise, a gente dá aquela respirada, mas estamos voltando para ritmo de crescimento e começamos a ver alguns gargalos. Como não tem plano novo de refinarias, a importação é cada vez mais relevante, por exemplo. E como tirar o produto do porto?”, questiona o vice-presidente da Vibra, Marcelo Bragança.
O vice-presidente de Supply & Trading da Ipiranga, Francisco Ganzer, explica que um plano novo de logística requer uma solução diferente para cada região do país. Enquanto no Sul, o ideal são mais ferrovias e dutos, no Norte e Centro Oeste o transporte aquaviário tem muita relevância, diz. “Temos uma relação contratual com nossos clientes e precisamos fazer chegar o produto na cadência que ele precisa”.
Nos planos do atual governo, a ideia é apostar fortemente em ferrovias. Hoje elas respondem por 17% da matriz logística e a meta é chegar a 31%. A expectativa é de que sejam investidos R$ 200 bilhões nos próximos anos com base nos cerca de 80 pedidos de autorização feitos ao ministério depois da entrada em vigor do marco regulatório ferroviário. O secretário-executivo do Ministério de Infraestrutura, Bruno Eustáquio, lembra que a inversão da matriz logística é importante inclusive para viabilizar novas energias. O hidrogênio, por exemplo, que é considerado uma das energias futuras mais promissoras, tem dois terços do seu custo determinado pela logística, segundo Eustáquio.
Qualquer que seja o novo governo, a percepção é de que os novos investimentos terão que ser feitos em conjunto com a iniciativa privada. As próprias empresas já se organizam para dar mais eficiência à sua distribuição. No ano passado, Raízen e Vibra se uniram para fazer o investimento conjunto para atender a demanda por diesel do setor agrícola do Norte e Centro Oeste. As empresas investiram R$ 115 milhões em um terminal portuário em Santarém com capacidade de movimentar 300 milhões de litros de combustíveis por ano. Nos estudos da IBP sobre o investimento em infraestrutura para o setor, 10 portos estão mapeados. Entre eles, o de Santarém, com R$ 484 milhões.