A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) apresentou ao atual governo a proposta de aumentar a alíquota de importação de pneus de 16% para 25%. Na visão da ANIP, existe uma disparidade entre o mercado asiático e o brasileiro. Por outro lado, a Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus (ABIDIP) destaca os impactos dessa decisão no território nacional.
A proposta aguarda votação na Câmara de Comércio Exterior (Camex), porém já preocupa um dos setores primordiais para a economia brasileira, o Transporte RODOVIáRIO de Cargas (TRC). Segundo estudo da ABIDIP, os pneus deverão ficar 25% mais caros, o que corroboraria um aumento de 6% nos custos do TRC. Atualmente, os pneus representam o segundo insumo mais caro do setor, atrás somente do combustível.
Marcel Zorzin, diretor operacional da Zorzin Logística – transportadora com manutenção própria –, pondera sobre as dificuldades que essa medida pode acarretar para as empresas: “Isso só permitirá ainda mais a elevação dos custos dentro de um setor que, historicamente, já sofre com as inflações. Quando colocamos todos esses números na planilha, acabamos tendo um prejuízo nas operações, já que não conseguimos repassar esse aumento nos fretes. Ou seja, mais uma inflação, principalmente por se tratar de um dos insumos que mais consumimos, podendo causar sérios problemas”.
De acordo com dados apresentados pela ANIP, os pneus importados estão abaixo do custo de produção no Brasil, prejudicando a indústria nacional. Entre 2017 e 2023, as vendas de pneus nacionais diminuíram 18%, enquanto, no mesmo período, as importações cresceram 117%.
A visão das empresas de transporte é buscar estratégias e soluções que não encareçam ainda mais os custos das operações. “Essa situação é semelhante ao transporte. Se aumentarmos o custo de peças, combustível, entre outras coisas, não conseguiremos repassar, porque não tem como. Então, se o governo, as montadoras e as fabricantes estão forçando essa taxação, na minha visão está errado, porque vamos pagar mais caro no final das contas”, descreve Marcel.
Em contraponto, a ressalva seria a sustentabilidade que o mercado interno brasileiro poderia promover. A decisão geraria uma proporção maior na reciclagem, frente aos importadores de pneus internacionais. De acordo com dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), os fabricantes nacionais têm um saldo acumulado de 127 mil toneladas de pneus recolhidos para reciclagem. Os importadores, por sua vez, têm um passivo ambiental de 419 mil toneladas de pneus não recolhidos.
Para Marcel, apesar dos apontamentos daqueles que desejam a taxação, é necessária outra visão: “Internamente, compramos pneus novos mensalmente. Fazemos um estudo, ou seja, uma pesquisa de marcas de preferência, que nos permite uma rodagem maior e de qualidade. Porém, com o aumento dos preços, tivemos que encontrar outras oportunidades que nos atendam. Então, por isso, acredito que a indústria brasileira precisa se reinventar, buscar formas de captar e atrair clientes internos para comercializarem seus produtos a preços acessíveis, principalmente para as empresas de transporte”, finaliza.