Um dos principais impactos da privatização do aeroporto Afonso Pena, concretizada em leilão na última semana, deve ser a ampliação da movimentação de cargas no Paraná por via aérea. Hoje o modal é pouco utilizado para este fim, mas essa realidade pode mudar.
O setor automotivo, um dos principais da economia paranaense, é um dos que pode se beneficiar. Do total de peças e componentes que a Volvo, montadora de caminhões e ônibus instalada na Cidade Industrial de Curitiba, traz da Europa e Estados Unidos, apenas 35% entram no país via Afonso Pena. O restante vem pelos aeroportos de Guarulhos e Viracopos.
“Temos uma grande expectativa em relação à construção da terceira pista [ela deve ser concluída em 2026, de acordo com previsão da Agência Nacional de Aviação Civil, Anac] porque queremos ampliar esse percentual”, afirma Alexandre Parker, diretor de Assuntos Corporativos da Volvo. Segundo ele, por questões de logística, é muito melhor e mais ágil importar via Afonso Pena. “Além da proximidade com nossa fábrica, temos o centro de distribuição, na BR-277, que fica ainda mais próximo do aeroporto”, observa. O centro abastece, com peças de reposição, todo o mercado da América Latina.
As indústrias dos setores eletroeletrônico e farmacêutico também podem demandar mais o transporte aéreo para a movimentação de mercadorias. “Elas importam componentes e matérias-primas, que são cargas leves e de pequeno volume, totalmente adaptáveis ao transporte em aeronaves”, destaca João Arthur Mohr, gerente de Assuntos Estratégicos da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Para a Federação do Comércio do Paraná (Fecomércio), o transporte de mercadorias por meio aéreo precisa ser ampliado. “Ainda é um transporte de alto custo, não compensando na maioria dos casos”, observa Ari Faria Bittencourt, vice-presidente da entidade. Segundo ele, a tendência, é que a operação se torne menos onerosa, podendo ser mais utilizada. “Hoje, pela limitação da pista, os aviões cargueiros saem com meia carga e são obrigados a pousar em São Paulo para completar”, observa.
Privatização do Afonso Pena deve destravar investimentos
A atração de novos investimentos é outra expectativa em relação à modernidade e ampliação do aeroporto. “Não basta um aeroporto internacional ter voos para Paraguai, Argentina e Uruguai. Temos que ter voos intercontinentais”, defende Marcos Domakoski, presidente do Movimento Pró Paraná.
Para ele, a privatização do Afonso Pena, ao lado da modernização das rodovias, ferrovias e portos, faz o Paraná caminhar para ser um hub de logística no Brasil, o que deve destravar a atração de novos investimentos. “A infraestrutura deficiente é um grande limitador neste processo”, observa.
“Quando recebemos uma indústria de fora, com interesse de se instalar aqui, um dos pontos considerados é o tempo de deslocamento entre a matriz e a nova unidade”, observa João Arthur Mohr, da Fiep. Assim como benefícios fiscais e disponibilidade de mão de obra capacitada, a estrutura logística é um fator chave que pesa na decisão”, pontua.
Sem previsão de novos equipamentos
Apesar do ganho em ampliação e capacidade dos voos, outra reivindicação dos usuários do Afonso Pena não será atendida com a privatização. A instalação do ILS CAT III, (Instrument Landing System), que viabilizaria aproximações por instrumentos com visibilidade zero.
Conforme informou a Anac, a concessão não inclui a implantação dos equipamentos de auxílio à navegação. O contrato de concessão exige a adequação do projeto para ILS CAT II, sistema que permite a aproximação por instrumentos até 400 metros da cabeceira a uma altura de 30 metros, o que já existe no Afonso Pena.
A privatização vai implicar também na mudança de gestão de todo o terminal aeroportuário, que será assumida pelos próximos 30 anos pela Companhia de Participação em Concessões (CCR), que arrematou o Bloco Sul. O prazo de transição para a gestão da concessionária ocorrerá, no mínimo, em 125 dias após a assinatura do contrato, conforme informou a assessoria de imprensa da Anac.
Ainda segundo a agência, caberá à nova gestora notificar todas as pessoas físicas e jurídicas que possuam contratos celebrados com o atual operador aeroportuário (Infraero) e que envolvam a utilização de espaços, informando sobre a sua sub-rogação integral nos contratos. A Anac esclareceu ainda que “o contrato não impõe à nova concessionária a contratação dos empregados da Infraero, que seguem vinculados à empresa pública”.
A CCR já administra outros aeroportos no Brasil e no exterior, bem como rodovias em seis estados brasileiros.