“Não temos boas notícias”, avisou o presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Vander Costa, ao iniciar em Brasília a divulgação dos resultados da 23ª edição da Pesquisa de Rodovias 2019, feita pela CNT em parceria com o SEST/SENAT para avaliar o estado de 108 mil quilômetros de toda a malha federal pavimentada e dos principais trechos estaduais pavimentados nas cinco regiões do Brasil. O levantamento feito por 24 equipes de pesquisadores entre 20 de maio e 18 de junho foi apresentado nesta terça-feira (22) à imprensa e aos representantes do ministério da Infraestrutura, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) e a parlamentares.
A conclusão é de que a qualidade piorou muito de 2018 para cá. Até mesmo a sinalização que tem custo menor – e que vinha sendo um ponto positivo – retrocedeu. Em um ano, os problemas aumentaram em 59% por toda a extensão pesquisada. Houve piora no pavimento (52,4% com problemas), na sinalização em 48,1% dos trechos e de geometria da via em 76,3% das estradas analisadas. No ano passado, a avaliação foi, respectivamente, de 50,9%, 44,7% e 75,7% com problemas. A queda nas condições das rodovias inclui as rodovias concessionadas, apesar de ainda serem as de melhor situação no país. E o diagnóstico concluiu que, ao longo dos 108.863 quilômetros pesquisados, os pontos críticos aumentaram em 75,6%. Passaram de 454 em 2018 para 797 em 2019.
Os dados foram detalhados pelo diretor executivo da CNT, Bruno Batista e aborda a situação de rodovias sob gestão pública e concedida. O estudo considerou as infraestruturas de apoio, como trechos com postos de abastecimento, borracharias, concessionárias, oficinas mecânicas, restaurantes e lanchonetes disponíveis ao longo das rodovias.
Os recursos investidos também estão mais escassos. Segundo a CNT, são os menores dos últimos 16 anos e a previsão é de que o orçamento enviado ao Congresso para 2020 não permita maiores investimentos. “A solução é acelerar as privatizações, a melhor alternativa para um governo descapitalizado”, defende Vander Costa. O presidente da CNT alertou para a necessidade de um modelo que possa viabilizar a concessão de forma a garantir a efetiva melhoria das rodovias e o consequente desenvolvimento econômico. “É preciso fazer com o que está no contrato seja cumprido”, completou.
Entre os transportadores ouvidos sobre a falta de segurança nas estradas e incluídos na apresentação da pesquisa, Ana Carolina Jarrouge, atual coordenadora da COMJOVEM Nacional da NTC&Logística, comentou os resultados. “Os acidentes acontecem não só por falta de sinalização, mas por sinalização desgastada. E, ao contrário do que temos na maior parte do país, as rodovias bem conservadas geram conforto”. As rodovias concessionadas em melhores condições estão no estado de São Paulo.
O senador Wellington Fagundes, presidente da Frente Parlamentar Mista de Logística, Transporte e Armazenagem (FRENLOG), defendeu mudanças na legislação e lembrou que, segundo estudos, a qualidade do asfalto também caiu. “Existe uma reclamação muito grande de que a qualidade está sendo reduzida com o tempo”.
Os impactos no custo do transporte foram mensurados. Em 2019, estima-se que, na média nacional, as inadequações do pavimento resultaram em uma elevação do custo operacional do transporte em torno de 28,5%, o equivalente à compra de 5 mil caminhões novos. O maior índice foi registrado na região Norte, com mais de 38,5%. “Transporte mais caro significa produtos mais caros”, ressaltam os responsáveis pelos números.
A pesquisa deste ano traz uma inovação. No site da CNT, está disponível o Painel de Consultas Dinâmicas da Pesquisa CNT de Rodovias com os resultados nacionais e por Unidade da Federação, dados de investimentos, acidentes e meio ambiente, entre outros.