Quatro em cada dez rodovias do estado de São Paulo estão nas mãos da iniciativa privada. E a maioria das estradas ainda gerida pelo governo não tem tanta movimentação, por isso, não atrai empresas. Quando se fala em novas concessões, o motorista já acende o sinal amarelo. É um alerta de que isso vai pesar ainda mais no bolso.
São Paulo fica em segundo lugar entre os estados com pedágio mais caro do país, atrás apenas do Rio de Janeiro. Enquanto o motorista brasileiro gasta em média R$ 5 para percorrer 100 quilômetros, em São Paulo o valor passa de R$ 12, aponta o IPEA. O motorista que cruzar o estado em um percurso de 630 quilômetros entre a capital e a cidade de Andradina vai pagar mais de R$ 100. Se o caminho for para Florianópolis, em Santa Catarina, o desembolso não chega a R$ 32. O engenheiro Ricardo Barcelos costuma ir de carro para o Sul e, para ele, as estradas são semelhantes às de São Paulo.
“Hoje tá muito bom, está excelente. Mas eu acho que daqui a pouco o pedágio vai subir, não vai ficar nesse patamar. Hoje a Regis (Rodovia Régis Bittencourt), na parte que esta duplicada, está nova. Ainda tem alguns trechos ruins, mas 90% estão ótimas.”
Para quem costuma viajar de carro pelo país, há quase um consenso, as estradas de São Paulo concedidas são boas. Mas para o Ministério Público essa informação não se confirma. Um relatório do órgão mostra que as tarifas são altas na comparação com o serviço oferecido. Os problemas vão desde asfalto com ondulações a falta de sinalização e mato invadindo a rodovia, segundo o promotor Silvio Marques.
“As estradas paulistas deveriam ser impecáveis, deveriam ser um tapete. Porque o valor do pedágio é razoável, é um valor que deveria levar as empresas a cumprir o contrato que elas assinaram com o estado de São Paulo, mas infelizmente em muitos casos os contratos não estão sendo cumpridos. O usuário paga a conta do pedágio e também é obrigado a pagar por eventuais reparos em razão de trafegar em estradas que estão em situação precária.”
Para as rodovias já concedidas, o jeito é se acostumar com os valores, mas, daqui em diante, a avaliação dos especialistas é de que é possível mudar. É que o modelo de concessão onera ainda mais os motoristas, já que as concessionárias são selecionadas também a partir do valor de outorga. O pesquisador do IPEA Carlos Campos avalia que o governo poderia abrir mão dessa taxa.
“No caso de novas concessões, é uma boa hipótese pensar em mudar o critério de escolha do vencedor para o critério da menor tarifa. É uma questão de tomada de decisão, uma questão de escolha de POLíTICA. As novas concessões, não há nenhuma restrição, podem ser feitas pelo critério da menor tarifa porque onera menos o usuário.”
O desafio para o próximo governo será investir recursos públicos nesses mais de 10 mil quilômetros de rodovias estaduais. E parte delas não está em boas condições. Quase metade é considerada regular, ruim ou péssima, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Transporte.