O setor de transporte e logística desempenha um papel crucial na economia brasileira, conectando diferentes regiões do vasto território nacional. No entanto, enfrenta desafios significativos, como a necessidade de maior eficiência operacional, transparência e segurança nas transações. O blockchain, juntamente com contratos inteligentes, emerge como uma solução inovadora capaz de revolucionar esse setor e impulsionar benefícios significativos. Estas tecnologias reduziriam também a probabilidade de erros humanos, melhorando a eficiência global do setor.
Mas o que é blockchain? A tecnologia blockchain é uma sofisticada estrutura de banco de dados que possibilita a divulgação clara e transparente de dados dentro da rede empresarial. Blockchain é a tecnologia que possibilitou a criação do bitcoin e de outras criptomoedas, como Ether e Litecoin, mas ela pode ser usada para diversas outras aplicações.
Explicando de uma forma mais simples, imagine um sistema de correio global onde as cartas são transportadas por uma rede de bicicletas. Cada carta é colocada em uma mochila, que passa por várias estações de validação ao redor do mundo. Se aprovada, a mochila é selada com um código único e se une a outras mochilas. Para aumentar a segurança, cada mochila carrega não só o seu próprio código, mas também o código da bicicleta que a carrega. Isso significa que, para acessar o conteúdo de uma mochila, alguém teria que decifrar mais de um código. Essa rede de entregas não tem um dono central, então todas as entregas são registradas em um livro público disponível para todos. No entanto, só é possível ver quando uma entrega foi feita, não quem enviou ou o que foi enviado.
O blockchain, por sua natureza descentralizada e imutável, pode fornecer uma infraestrutura segura para o registro e rastreamento de todas as transações ao longo da cadeia de suprimentos de transporte. Cada transação, desde a origem até o destino final, pode ser registrada em blocos interconectados, proporcionando transparência e reduzindo riscos de fraudes e erros. No entanto, segundo Astarita et al (2019), a maioria dos artigos encontrados na literatura para o setor de transportes mostram apenas potencialidades. Ou
seja, o Blockchain ainda não é uma realidade para o TRC. Isso ocorre devido ser frequentemente relacionada a difusão da Internet de sistemas e dispositivos conectados em tempo integral, o que todos sabem, não ocorre em solo brasileiro. Por outro lado, empresas que estão de alguma forma relacionadas com o TRC, já estão obtendo bons resultados com esta nova tecnologia. A Boeing, por exemplo, participa do desenvolvimento da SkyGrid, que usa essa tecnologia para gerenciar o tráfego aéreo. Enquanto isso, o Carrefour monitora e rastreia a cadeia de produção de 30 variedades de produtos, como ovos, salmão e queijo, por meio da blockchain.
A rastreabilidade é um componente crucial para o transporte eficiente, especialmente em um país tão extenso quanto o Brasil. Segundo Tijan et al (2022) esta tecnologia pode facilitar tarefas logísticas: pode ser usado para rastrear pedidos de compra, alterações de pedidos e documentos de frete, e pode ajudar na informação compartilhando sobre o processo de fabricação e entrega. Isso tudo antes mesmo do caminhão passar por uma barreira fiscal ou mesmo pedágios. Além disso, o blockchain poderia otimizar processos e aumentar a confiabilidade de manifesto de cargas e CTE’s. Um sistema poderia ser desenvolvido para vincular todos os interessados na carga, Receitas estaduais, federais e municipais, embarcadores, clientes e transportadores. Todos os interessados receberiam uma chave com as informações de carregamento, entrega e talvez até localização da carga. Isso diminuiria vertiginosamente o trabalho de fiscais e atrasos em postos fiscais. Combinado com tecnologias RFID (Identificador por rádio frequência, uma evolução do código de barras), pode até eliminar aquele fiscal “tendencioso” que procura algum tipo de “favorecimento” escuso, pois o controle de total de toda a documentação seria criptografado e já aprovado pelos órgãos competentes previamente. Isso tudo além de, permitir a antecipação de potenciais problemas, como atrasos ou danos, possibilitando uma resposta rápida e eficaz.
Esta tecnologia poderia inclusive substituir o infindável DTe. Pois não seria mais necessário um novo documento contendo as informações. O próprio Blockchain já reuniria as informações necessárias do manifesto e CTe’s que são mais do que suficientes para identificar e controlar as cargas pelo país. Isso seria uma simplificação significativa de processos burocráticos, como a emissão e verificação de documentos de transporte, faturas e pagamentos. Pois o transportador poderia vincular o recebimento do frete ao manejo das informações, como chegada e partida da carga, etc. Isso é crucial em um setor onde diferentes empresas, como transportadoras, fornecedores, alfândegas e clientes, muitas vezes operam com sistemas distintos.
Em resumo, a implementação de blockchain e contratos inteligentes no transporte e logística brasileiros tem o potencial de otimizar operações, aumentar a transparência, reduzir custos e melhorar a segurança. Embora desafios possam surgir durante a transição para essas tecnologias inovadoras, os benefícios a longo prazo para o setor e para a economia brasileira como um todo são promissores. O futuro do transporte e logística no Brasil pode ser moldado pela adoção inteligente e estratégica dessas tecnologias disruptivas.
Referencias:
ASTARITA, Vittorio et al. A review of blockchain-based systems in transportation. Information, v. 11, n. 1, p. 21, 2019.
TIJAN, Edvard et al. Factors Affecting Container Seaport Competitiveness: Case Study on Port of Rijeka. Journal of marine science and engineering, v. 10, n. 10, p. 1346, 2022.