Hoje, dia 8 de março, é comemorado o Dia Internacional da Mulher. A data já era celebrada desde a década de 20, mas apenas em 1975 a Organização das Nações Unidas a oficializou. Seu foco foram sempre as questões trabalhistas e a busca pela igualdade salarial e de oportunidades entre homens e mulheres.
Mesmo que essa movimentação possua cem anos, atualmente ainda ocorrem muitas situações em que a mulher é considerada inferior ao homem. Porém, diariamente mulheres do mundo todo comprovam sua capacidade para atuar em qualquer setor. Um deles é o transporte RODOVIáRIO de cargas, visto por muitos como um ambiente exclusivamente masculino, mas que vem sendo conquistado por elas.
Para Ana Carolina Ferreira Jarrouge, da Ajofer Transportes, apesar dos inúmeros obstáculos que se apresentam no caminho, a mulher pode sim chegar onde quiser devido a sua força e persistência peculiares. “Vejo que, ao longo destes mais de 15 anos que participo de nossas entidades, as mulheres do transporte, mesmo que de forma tímida e gradativa, vem desempenhando um papel de extrema relevância”. Ana é coordenadora da Comissão Nacional de Jovens Empresários e Executivos do Transporte Rodoviário de Cargas, a COMJOVEM Nacional, fundada pela NTC&Logística, entidade representativa do setor com mais de 55 anos.
A COMJOVEM Nacional tem como objetivo integrar e capacitar os jovens empresários e executivos para que futuramente liderem as empresas de suas famílias. Além disso, possui núcleos em todo o Brasil ligados a sindicatos locais. Ana relata que nessas células é possível encontrar o público feminino discutindo, debatendo, estudando, se qualificando e se preparando para trazer melhorias ao segmento. “Somos assim: emotivas, humanas, delicadas, mas muito capazes”, aponta.
Joyce Bessa, da empresa TransJordano e integrante do núcleo da COMJOVEM de Campinas, declara que a cada ano a figura da mulher se faz mais presente no ramo dos transportes. “Já garantimos nosso lugar no mundo corporativo, e no transporte rodoviário de carga não foi diferente. Fomos chegando devagarzinho e hoje já somos muitas e unidas”. Porém, elas ainda não conseguiram alcançar muitos cargos de liderança nesse campo. “Vejo que esse assunto ainda é muito recente no mercado brasileiro, e no TRC ainda mais, visto que é um mercado predominantemente masculino. Por isso, a mulher ainda está em fase de transformação quanto ao seu papel na família e mesmo em relação à sua própria carreira”, opina.
Além desses fatores, ela ainda aponta a questão de que muitas são mães e precisam conciliar não só seus empregos, mas também uma casa e uma família. Mesmo assim, Joyce vê como essencial a participação de suas colegas em reuniões de sindicatos. “Entendo que a nova geração busca e apoia mais representatividade feminina no setor. Já fui conversar com mecânicos, borracheiros e motoristas da minha empresa e sempre fui muito respeitada”, conta. Orgulhosa, relata que em sua empresa já existem dez motoristas mulheres no quadro de funcionários e que há apoio também para que elas participarem de cargos de chefia. “A mulher de hoje não é tão frágil como antes, sabe se manter e é decidida, deixando de lado a fragilidade no mundo dos negócios. A mulher busca o seu lugar no mercado, e pesquisas mostram esta ascensão. Além de profissional, a mulher pode ser mãe, esposa, dona de casa – ou seja, multitarefa”.
E essa questão de poder realizar mais de uma tarefa ao mesmo tempo é o que Amanda Juliani Lucatto, coordenadora do núcleo da COMJOVEM em Porto Ferreira e também empresária da Transportadora Jule LTDA, vê como um dos principais diferenciais da mulher, já que o ramo dos transportes é bastante dinâmico. “Isso é sem dúvida o combustível para a gente obter a satisfação profissional no nosso setor, que é o que amamos fazer”, considera. Mas mesmo com toda essa abertura para o público feminino, que é bem maior hoje em dia, Amanda expõe que este ainda é um mercado de predominância masculina, tanto nas empresas quanto nos sindicatos. Porém, a persistência das mulheres está possibilitando uma mudança de cenário, acompanhada, é claro, de muito interesse e aprendizado por parte delas. “Com muita determinação e comprometimento a gente vem conseguindo cada vez mais espaço no nosso setor”.
Com relação ao aprendizado, Thais Bandeira Cardoso, da empresa Kodex Express e vice-coordenadora do núcleo COMJOVEM Porto Alegre, afirma que esse é um fator muito importante para que as mulheres conquistem mais seu espaço. Segundo ela, por ser um ramo que os homens tradicionalmente dominam, é necessário que se possua um conhecimento alto para debater e se impor em todos os espaços. “A gente busca muito mais se capacitar, um aperfeiçoamento, para que consigamos mostrar a capacidade e o conhecimento que a gente possui sobre alguns assuntos”, reforça. Assim, acredita que a categoria já está abrindo mais as portas para diversificar seus funcionários, mas que ainda está longe de ser o ideal por existir uma diferença grande com relação aos salários e também pelo preconceito. “Em cargos maiores, a gente tem que lutar muito mais para estar lá. Mas estamos no caminho. E vamos nos colocar para que mais mulheres venham atrás da gente”, opina.
Conforme informações da Confederação Nacional do Transporte (CNT), apenas 17% dos profissionais da área dos transportes são mulheres. Isso prova que muito ainda deve ser trilhado para que elas conquistem o espaço merecido. Mas mesmo com um volume tão baixo de empregadas, houve um grande aumento na procura por especialização. Nos últimos anos, ocorreu um crescimento de 60,4% na busca delas por habilitação em transportes de passageiros, produtos perigosos e transporte escolar por meio do projeto Habilitação Profissional para o Transporte – Inserção de Novos Motoristas, do SEST SENAT.
Segundo Gabriela Velame Andrade, coordenadora da COMJOVEM da Bahia e empresária da Martins Medeiros Logística, um dos principais fatores que têm auxiliado na ascensão das mulheres no setor dos transportes é a COMJOVEM, justamente por ser coordenada por uma mulher, Ana Jarrouge. “No cenário atual, têm se destacado mulheres aguerridas que fazem a diferença, como a Ana, e que vêm ajudando com competência na condução das entidades ligadas ao setor”.