Falar sobre ética é relativamente fácil, podemos citar vários exemplos de atitudes e comportamentos considerados éticos no nosso dia a dia, como não pegar coisas que não nos pertencem, perceber um erro na conta do restaurante e avisar o garçom para cobrar o correto, tratar as pessoas como iguais, com humildade e respeito, não mentir, enfim. Mas o que é ética? Qual a definição de ética? O que é ser ou não ser ético?
A ética é a matéria de um dos campos da filosofia. Aristóteles tem um livro escrito para seu filho chamado “Ética a Nicômaco”, onde busca responder a duas perguntas consideradas por ele fundamentais: Como quero viver minha vida? Como vou me relacionar com os outros?
Os gregos tinham a mesma palavra para ética e moral, a palavra ethos. Quando tinha o objetivo de representar princípios, num sentido mais individual, para cada pessoa, significava ética. Quando tratava de regras sociais, normas, costumes coletivos, estavam falando de moral. Ética portanto, é quando você olha pra dentro de si e se pergunta: “devo fazer isso ou não?”. São os princípios, é algo pessoal, provenientes da educação, dos pais, da família, da igreja que frequenta, dos grupos com os quais se convive. Estamos tratando de um conjunto de valores e princípios que usamos para guiar nossa conduta.
O ser humano tem capacidade mental de raciocinar, faz julgamentos morais, e se utiliza de valores adquiridos em sua formação ao longo da vida para isso. Quem julga e decide, tem ética. Não existem aéticos, a não ser os mentalmente incapazes e os animais, por exemplo. Os antiéticos, são aqueles que vão contra a ética coletiva, do grupo.
Além disso, a ética pode ser boa ou má. A boa ética prega o altruísmo, a sinceridade, a boa fé, enquanto a má ética aparece nos interesseiros, em quem age de má fé, quando se tem interesses ou objetivos ocultos em suas ações. Immanuel Kant falava da “regra de ouro” ou seja, não faça ao outro o que você não gostaria que fizessem a você; não trate as pessoas como objetos; não use o outro.
Mas é possível uma boa ética no ambiente corporativo?
Para Karl Marx não. Segundo ele, se o objetivo do sistema é a “mais valia”, o lucro, você só teria esse objetivo alcançado tirando “mais valia” de outrem, no exemplo dele, do trabalhador. O marxismo colocava o burguês e o proletário em lados opostos. Para o famoso autor, o capitalismo tem uma ética ruim.
Não acredito nisso, mas não posso deixar de reconhecer a necessidade de uma nova ética no mundo globalizado. Durkheim dizia que desde o século XIX o mundo vive uma anomia, uma falta de ética, de valores. Para ele as pessoas estão cada vez mais sem rumo, perdendo a capacidade de discernir o certo do errado.
A meu ver a lógica do resultado, da meta e do sucesso acaba se impondo de tal forma que os procedimentos e a maneira de atingir um objetivo é que acabam sucateados.
Um exemplo do professor Clóvis de Barros Filho é quando visitamos empresas, onde geralmente nos deparamos com o banner de valores. E em alguns podemos ler: HONESTIDADE, CRIATIVIDADE, TRANSPARÊNCIA; em seguida o invariável: FOCO NO RESULTADO. Toda vez que o foco está em alguma coisa, todas as outras perdem o foco. Assim, fica descaracterizada a ideia de pluralidade. O que ele quer dizer com isso? Se houver um conflito entre honestidade e resultado, então, a resposta está no banner: o foco é resultado. Se houver conflito com qualquer outro valor, o foco está no resultado. E isso significa fazer o que for preciso para obter resultado, mesmo que implique em mentir, enganar, ludibriar e assim por diante. A definição das metas e dos resultados é um gesto corporativo que deixa bem claro o que importa. O foco é o resultado. Mas será que qualquer outro princípio é válido, desde que não comprometa o princípio maior, que é o resultado?
Kant sugere algo especial. Ele diz que tudo o que não se puder contar como fez, não se deve fazer. Afinal, se há razões para se envergonhar e não poder contar, essas são as mesmas razões para não fazer.
Mario Sergio Cortella exemplifica com um trocadilho na área de filosofia, “quando nosso foco está no resultado, não temos ilusão de ótica, mas sim de ética”.
Enquanto estivermos apoiados nessa lógica, parece-me absolutamente compreensível que as pessoas “colem”, mintam, subornem, que comprem gabaritos de concursos, que paguem propinas, porque fomos doutrinados para isso. Compreensível, não aceitável. Daí a necessidade de mudança, de compartilharmos inteligência e bons valores a serviço do aperfeiçoamento da convivência social, corporativa e familiar.
O que nos caracteriza é a possibilidade de escolher nossa conduta. E a ética implica necessariamente conduzir a si mesmo. Seja qual for o sistema ou organização onde estamos inseridos, sempre haverá a possibilidade de dizer: “Este jogo eu não jogo”.
Responsável: Thiago Budni